segunda-feira, 22 de abril de 2013




Domingo na Redenção

        Domingo a Pátria Rio-grandense reuniu-se no Parque da Redenção. Trouxe o que de mais autêntico possui: A Ospa, Borguetinho, Nenhum de Nós, e é claro, os Fagundes.

        O dia estava lindo, a natureza saudando o encontro. O sentimento patriótico sendo exaltado. Foi naquele momento em que me senti um privilegiado de ter nascido nesta terra, que eu amei desde guri. O coroamento da festa foi com o “Canto Alegretense”, como não poderia deixar de ser.

















quinta-feira, 18 de abril de 2013




A MORTE DA EXECUTIVA 
BEM SUCEDIDA

Foi tudo muito rápido. A executiva bem-sucedida sentiu uma pontada no peito, vacilou, cambaleou. Deu um gemido e apagou-se. Quando voltou a abrir os olhos, viu-se diante de um imenso Portal.

Ainda meio tonta, atravessou-o e viu uma miríade de pessoas. Todas vestindo cândidos camisolões e caminhando despreocupadas. Sem entender bem o que estava a acontecer, a executiva bem-sucedida abordou um dos passantes:


- Enfermeiro, eu preciso voltar com urgência para o meu escritório, porque tenho um meeting importantíssimo. Aliás, acho que fui trazida para cá por engano, porque o meu seguro de saúde é Platina, e isto aqui está parecendo mais a urgência dum Hospital público. Onde é que nós estamos?


- No céu.


- No céu?...


- É.


- O céu, CÉU...?! Aquele com querubins, anjinhos e coisas assim?


- Exato! Aqui vivemos todos em estado de graça permanente.


Apesar das óbvias evidências, ausência de poluição, toda a gente a sorrir, ninguém usando celular, a executiva bem-sucedida levou tempo a admitir que havia mesmo batido as botas.

Tentou então o plano B: convencer o interlocutor, por meio das infalíveis técnicas avançadas de negociação, de que aquela situação era inaceitável. Porque, ponderou, dali a uma semana iria receber o bõnus anual, além de estar fortemente cotada para assumir a posição de presidente do conselho de administração da empresa.

E foi aí que o interlocutor sugeriu:


- Talvez seja melhor a senhora conversar com Pedro, o coordenador.
 
 

- É?! E como é que eu marco uma audiência? Ele tem secretária?

 
- Não, não. Basta estalar os dedos e ele aparece.

- Assim? (...)
 

- Quem me chama?

A executiva bem-sucedida quase desabava da nuvem. À sua frente, imponente, segurando uma chave que mais parecia um martelo, estava o próprio Pedro.

Mas, a executiva tinha feito um curso intensivo de approach para situações inesperadas e reagiu logo:


- Bom dia. Muito prazer. Belas sandálias. Eu sou uma executiva bem-sucedida e...


- Executiva... Que palavra estranha. De que século veio?


- Do XXI. O distinto vai dizer-me que não conhece o termo 'executiva'?


- Já ouvi falar. Mas não é do meu tempo.


Foi então que a executiva bem-sucedida teve um insight. A máxima autoridade ali no paraíso aparentava ser um zero à esquerda em modernas técnicas de gestão empresarial. Logo, com seu brilhante currículo tecnocrático, a executiva poderia rapidamente assumir uma posição hierárquica, por assim dizer, celestial, ali na organização.


- Sabe, meu caro Pedro. Se me permite, gostaria de lhe fazer uma proposta. Basta olhar para essa gente toda aí, só na palheta e andando
 à toa, para perceber que aqui no Paraíso há enormes oportunidades para dar um upgrade na produtividade sistêmica.

- É mesmo?


- Pode acreditar, porque tenho PHD em reorganização. Por exemplo, não vejo ninguém usando identificação. Como é que a gente sabe quem é quem aqui, e quem faz o quê?


- Ah, não sabemos.


- Percebeu? Sem controlo, há dispersão. E dispersão gera desmotivação. Com o tempo isto aqui vai acabar em anarquia. Mas podemos resolver isso num instante implementando um simples programa de targets individuais e avaliação de performance.


- Que interessante...


- É claro que, antes de tudo, precisaríamos de uma hierarquização e um organograma funcional, nada que dinâmicas de grupo e avaliações de perfis psicológicos não consigam resolver.


- !!!...???...!!!...???...!!!


- Aí, contrataríamos uma consultoria especializada para nos ajudar a definir as estratégias operacionais e estabeleceríamos algumas metas factíveis de leverage, maximizando, dessa forma, o retorno do investimento do Grande Accionista... Ele existe, certo?


- Sobre todas as coisas.


-
 Ótimo. O passo seguinte seria partir para um downsizing progressivo, encontrar sinergias high-tech, redigir manuais de procedimento, definir o marketing mix e investir no desenvolvimento de produtos alternativos de alto valor agregado. O mercado telestérico, por exemplo, parece-me extremamente atrativo.

- Incrível!


- É óbvio que, para conseguir tudo isso, teremos de nomear um board de altíssimo nível. Com um pacote de remuneração atraente, é claro. Coisa assim de salário de seis dígitos e todos os fringe benefits e mordomias da praxe. Porque, agora falando de colega para colega, tenho a certeza de que vai concordar comigo, Pedro. O desafio que temos pela frente vai resultar num Turnaround radical.
  

 
- Impressionante!

- Isso significa que podemos partir para a implementação?


- Não. Significa que a senhora terá um futuro brilhante... se for trabalhar com o nosso concorrente. Porque acaba de descrever, exatamente, como funciona o Inferno... 

Max Gehringer
(Revista Exame)

Obrigado, Marlene

terça-feira, 9 de abril de 2013




 O tempo é muito lento para os que esperam. Muito rápido para os que têm medo. Muito longo para os que lamentam. Muito curto para os que festejam. Mas, para os que amam, o tempo é eterno.  

William Shakespeare

sexta-feira, 5 de abril de 2013




ANNA KARENINA


Emma Bovary e Anna Karenina são as adúlteras mais famosas da literatura, e as duas tiveram o mesmo fim. Foram vitimas da sua época, da hipocrisia das sociedades em que viviam — mas também do moralismo disfarçado dos seus autores, que as criaram para se destruírem. Flaubert e Tolstoi condenaram a hipocrisia, mas não deixaram de castigar as suas duas transgressoras, ou de permitir que elas se castigassem. Enfim, foram homens, com sua misoginia à mostra, antes de serem artistas defendendo a transgressão.

Ainda não fizeram, que eu saiba, um bom filme de "Madame Bovary" (o último que tentou sem sucesso foi o falecido Claude Chabrol), mas o filme definitivo de "Anna Karenina" está nas telas, deslumbrando todo o mundo. A explicação talvez seja que Flaubert nunca encontrou um colaborador à sua altura para fazer o roteiro, enquanto Tolstoi encontrou o Tom Stoppard. E os dois contaram com um diretor aventureiro como Joe Wright, que conseguiu fazer um filme altamente estilizado, na sua redução dos cenários — até o de uma corrida de cavalos — a um teatro e seus bastidores, sem que isto parecesse preciosismo vazio ou atrapalhasse o drama. O filme é teatro sem ser teatral, como escreveu o Xexeo. E se tivesse sido filmado de forma convencional não teria a metade do impacto visual que tem. Com pouquíssimas tomadas externas, sem sair dos confins de um teatro, o filme mostra a Rússia imperial em todo o seu esplendor e miséria. O vasto exterior só aparece como contraponto para o claustrofóbico pequeno mundo da corte.

Joe Wright, para quem não se lembra, é o diretor, entre outros, do filme "Atonement" ("Desejo e reparação", se não me engano), baseado num romance de Ian McEwan. O filme contém o que é provavelmente o mais longo travelling ininterrupto da história do cinema, toda a confusão na praia de Dunquerque, onde tropas inglesas fugindo dos alemães no começo da guerra esperavam para serem retiradas, captada numa única e interminável tomada de tirar o fôlego. Podia ser exibicionismo técnico gratuito, mas mostrava a audácia de um diretor, que agora se confirma com este entusiasmante "Anna Karenina". Olho nele.

Mesmo para quem acha que nunca haverá outra Anna como a Greta Garbo, ou faz restrições a um ou outro incisivo da Keira Knightley, o filme é uma experiência imperdível. Ganhou só um Oscar, o que também o recomenda.

O filme definitivo de 'Anna Karenina' está nas telas. A explicação talvez seja que Flaubert nunca encontrou um colaborador à altura para o roteiro e Tolstoi encontrou o Tom Stoppard.

Luiz Fernando Veríssimo





...Vivemos num mundo do Vazio, da predominância dos Estados Depressivos, das relações interpessoais, não como forma de parceria mas como prática de atividades masturbatórias – “o dito parceiro” não para desenvolver uma parceria, uma troca afetiva, uma relação de complementariedade. Uma relação onde a função da outra pessoa é dar prazer, conforto material, satisfação física, características do que Freud chamou de Ego Prazer e também de Ego Corporal. Dito de outro modo, relações que tentam abstrair e retirar do cenário amoroso, a capacidade de tolerar as consequências de qualquer vínculo afetivo: diferenças de personalidades, ciúme, inveja, competição, rivalidade, raiva, ódio. 

A relação afetiva oferta um “pacote completo”, tanto de aspectos amorosos como sentimentos desconfortáveis. O homem contemporâneo não quer dedicar tempo a elaborar suas angústias existenciais, ele quer abolir a avalanche afetiva que está implícita numa relação, daí sua frieza, solidão e vazio afetivo... 

CARLOS VIEIRA


Carlos.A.Vieira, médico, psicanalista, Membro Efetivo da Sociedade de Psicanálise de Brasilia e de Recife. Membro da FEBRAPSI e da I.P.A - London.