segunda-feira, 14 de abril de 2014
quinta-feira, 10 de abril de 2014
quarta-feira, 9 de abril de 2014
FRANCISCA
HELENA
Era sexta feira. Estava em reunião dançante da Faculdade de
Odontologia. Após reforçar minha coragem com algumas cuba libres, fui tirar
para dançar uma moça que era a cara da Jeanne Moreau.
Jeanne Moreau tinha aparência seriíssima. Olhava-me como
carregasse todas as tragédias do mundo às costas. Com esse semblante, não me animei
a lhe dirigir uma única palavra. Ela, que me olhava fixamente, também não abriu
a boca.
Ao fim da dança, ela disse a primeira frase: - Com licença...
Foi
sentar, me deixando plantado na pista.
Dei a volta por cima e fui tirar para dançar uma loira alta,
muito bonita. Começamos a conversar imediatamente. Senti como se fossemos
velhos conhecidos. Na verdade, ela falava bastante e eu a ouvia. Disse-me seu
nome: Francisca Helena. Era um nome pitoresco.
Francisca Helena disse-me que estava com uma amiga. Não estudava
o que era exceção entre as pessoas presentes. Trabalhava em loja de rolamentos,
na Avenida Farrapos. Notei que ela
atropelava a língua pátria com muita frequência.
A noite correu rápida e alegre. Dançávamos, sentávamos e
conversávamos. Quando elas disseram que iam para casa, me ofereci para levá-las.
Francisca Helena deu como endereço uma rua tranquila no
bairro Montserrat. Deixei as duas em um prédio de apartamentos classe média,
com quatro pavimentos.
No dia seguinte, me dei conta de minha conquista. Francisca
Helena era um mulherão. Loira de olhos muito azuis, corpo perfeito, longas
pernas, esguias, lembrava uma modelo de perfume francês. Tinha a questão da
gramática, mas deixa para lá.
Ela não tinha me dado número de telefone (celular não havia).
Não sabia seu sobrenome nem do número do seu apartamento. Era sábado e resolvi
fazer uma loucura. Fui até o edifício de Francisca Helena. A porta da frente
estava aberta e comecei a bater de porta em porta, a partir do quarto
pavimento, perguntando por uma loira Francisca.
No penúltimo apartamento do segundo subsolo, fui atendido
por Francisca Helena. Mandou-me entrar, apresentou-me à família, uns alemães,
todos muito grandes e simpáticos. Quando contei como a encontrei, senti
que a tinha ganhado. Francisca Helena passou a me tratar como cavaleiro que havia
chegado montado em um corcel branco.
Começamos a namorar. O porte de Francisca Helena me deixava
envaidecido. As pessoas viravam-se quando passávamos. Para esconder sua pouca
cultura, quando estávamos em turma de amigos, discretamente a interrompia, ao dar algum palpite.
Naquela época, início dos anos sessenta, as moças não davam
para os namorados como dão hoje. Isso deflagrava um jogo de sedução
irresistível. Cada avanço no corpo da namorada era considerado como vitória, a
ser comemorada com os amigos com muito chope. Francisca Helena, apesar de
deixar beijá-la logo no início, revelou-se fortaleza inexpugnável.
Não é que Francisca Helena não gostasse de sexo. Ela gostava
muito. Seus gemidos traiam-na. Mas tinha sido criada numa moral alemã muito
rígida. Teria de casar virgem.
Esqueci de contar. Francisca Helena tinha 27 anos. Eu tinha
22. Ela era cinco anos mais velha. Utilizava esse argumento para convencê-la
que, aos 27 anos, ela já era quase titia e, se não mudasse de opinião, poderia
ficar assim para sempre.
Era tudo sacanagem minha. Na verdade, não aguentava mais de
tanta tesão por Francisca Helena. A diferença cultural me fazia crer que nossa relação não iria longe, o que mais me espicaçava o desejo.
Uma ocasião, depois de umas cervejas e um presentinho bem
escolhido, consegui que ela me deixasse tocar em seu peito. Muito emocionado,
perguntei se havia gostado. Disse ter se sentido como uma fruta apalpada na
feira.
Não desisti, entretanto. Uma noite, houve conjunção
favorável dos astros. Minha mãe viajou e nosso apartamento ficou só para mim.
Convidei Francisca Helena para irmos até em casa, jurando
solenemente que a respeitaria. Ela disse que não achava uma boa ideia e eu
insistindo e insistindo. Nesse momento, ela disse algo que, definitivamente,
encerrou nossa noite de sexo: “-Não vou. Cachorro que come ovelha, só matando”.
terça-feira, 8 de abril de 2014
Prezada amiga e
colega
Algum tempo atrás, estavas decepcionada
com a profissão. Pensaste em largar tudo e fazer concurso para o Banco do
Brasil. É uma alternativa válida. Podes tentar concurso para outras áreas.
Passei 37 anos lutando para fazer
arquitetura. É uma luta diária, na maior parte das vezes, inglória. Coloca em
jogo tua saúde financeira (e da família também) e também tua saúde mental.
Quando me formei, em 1972, estávamos no
“Brasil Grande”. A ditadura militar massacrava quem se opunha a ela, mas a
economia, graças a empréstimos generosos, oriundos dos petrodólares, fazia o
país crescer, ao que chamamos hoje, de níveis chineses.
Meu sonho, grandioso como de um bom
leonino, era montar uma empresa de consultoria, se possível, multinacional.
Pedi demissão de meu tranquilo emprego no Banco do Brasil, fiz engenharia de
segurança e comecei a me preparar para fazer administração de empresas.
Naquela época, havia tanto serviço que
meu limite de produção era o meu tempo. Tinha um belo escritório na esquina da
Felipe Camarão com a Oswaldo Aranha, com vista para a redenção. Contratei um
arquiteto e mantinha secretária em tempo integral.
Fazia desenvolvimento de projetos para
o Banco do Brasil, residências para ex-colegas, quando obtinham financiamento
imobiliário, perícias, avaliações e vistorias para o SFH. O sonho estava se
realizando.
Em 1983 faliu o BNH e, logo depois, o
Brasil quebrou. Como deves saber, os empréstimos dos governos militares foram
contratados com juros variáveis que, com o fim da farra dos petrodólares, foram
às alturas. Isso, junto com a má administração de recursos e a anarquia que havia
se instalado, levou o país para o buraco (como a imprensa era amordaçada,
fiquei sabendo disso depois).
Minha consultoria foi para as cucuias.
Na época, era um pobre ingênuo. Não sabia que consultoria, no Brasil, é
sinônimo de lavagem de dinheiro.
Bom, em síntese é a história de um
arquiteto no Brasil. Certamente muito parecida com a tua e de quase todos os
outros arquitetos.
De
vez em quando, me arrependo de ter pedido demissão do Banco do Brasil. Mas é só
de vez em quando.
De
maneira geral, a vida é só uma e passa muito rápida. Se não tivesse tido
coragem e me aventurado, não teria essa história para te contar. Esse já é um
bom motivo para ter feito o que fiz.
Vamos
ao que interessa. Estudamos e estamos aqui para ganhar dinheiro. Se tivéssemos outros
interesses, teríamos seguido a carreira eclesiástica ou seriamos monges na
Índia.
Nascemos
e vivemos neste país, que é o país do jeitinho. Hoje, praticamente, toda a
família tem um arquiteto (a). No tempo do Brasil Grande, as faculdades se
disseminaram e ninguém pensou em fechá-las quando veio a crise. Como somos um
país de ignorantes e tolos, quando alguém necessita de um profissional
arquiteto, procura um familiar, não para valorizá-lo, mas porque tem a
expectativa de conseguir um trabalho de graça ou quase de graça (já tive propostas
de troca de projeto por churrascos). Às vezes, alguém chega para nós e diz: "preciso que me dês uma ideia". Ideia não se dá, se vende.
Nossos
representantes em conselhos e sindicatos, via de regra, funcionários públicos
ou professores de faculdades, se reúnem para medir beleza e dessorar sobre
filosofia da arquitetura. Isso não enche barriga de ninguém. Vai ver se os
médicos tratam a prática de medicina com discursos de boas intenções.
Minha
sugestão é de que façamos como na Espanha. Lá, quando alguém precisa de um
trabalho de arquiteto, vai ao sindicato deles. Recebe uma lista de profissionais
aptos para fazer o serviço. Escolhe um e contrata, vê bem, pelo sindicato. Não
tem o choro, tipo, “ora, somos amigos”. Feito o negócio, o profissional recebe pela
tabela. Assim, dá para trabalhar.
Como
disse, o Brasil é o país do jeitinho. Nós, arquitetos, levamos mais de 30 anos
para termos nosso Conselho. Antes, pertencíamos à geleia geral do Confea e dos
seus Creas. Agora, com o Cau, podemos fazer isso.
É
só querer.
terça-feira, 1 de abril de 2014
PRIMEIRO DE ABRIL
Hoje, primeiro de abril, faz aniversário um golpe de estado
que envergonhou nosso país, como nação civilizada. Nossos vizinhos sul
americanos, que passaram por situação semelhante, imposta pelos Estados Unidos
da América do Norte, já renegaram a infame “anistia” imposta pelos militares
golpistas quando deixaram o poder. Julgaram e, em muitos casos, condenaram, a
longas penas, os responsáveis que trouxeram a tristeza e a dor a milhares de
famílias da América latina. Aqui neste país, por razões inexplicáveis, tudo
ficou como está e assassinos e torturadores estão, gradativamente, a prestar
contas apenas à justiça divina.
Assim, além de termos sofrido flagrante injustiça histórica,
estamos com nossas forças armadas,
instituições essenciais à defesa do país, totalmente desmoralizadas e sucateadas.
Graças à anistia, ficaram execradas por conta de criminosos que se acobertaram
na instituição para delinquir. Uma instituição, cuja função é apenas cumprir
ações políticas, virou agente político, tornando-se réu moral de um crime.
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