MUTANTES
Tem
gente que parece ter nascida fora de época. Eles estariam bem centenas ou
milhares de anos adiante.
Modestamente,
eu tenho faro para identificá-los. Não que pertença à espécie, longe disso, mas
os conheço quando vejo um. É pelo olhar penetrante, é pelo humor ferino, pela
maneira antípoda de proceder. Sobretudo, pelo jeito doce no tratamento.
Alguns
são ou foram famosos, como Albert Einstein, Steve Jobs, John Lennon ou Keith Richards.
Alguns, famosos e mártires, como Jesus Cristo, Ghandi e Martin Luther King.
Outros,
a maioria, leva a vida aos tropeções, ao conviverem com uma sociedade que,
efetivamente, não os entende. Cito um deles, meu amigo, cujo mente era tão
rápida que falava gaguejando, como se a língua não conseguisse acompanhar seu
raciocínio. Dizia: - Sou Gago, mas não sou gago de nascença, só comecei a
gaguejar quando comecei a falar.
Esses
aparentemente não são adequados para a vida, essa vida. Diria eu que a vida não
é adequada para eles. De uma maneira poética, costumam morrer de infarto do
miocárdio.
Posso
dizer que essas pessoas são mutantes, elas vislumbraram outro mundo, mais
moderno, mais justo. Infelizmente, o mundo não as reconhece, como eu as
reconheço.
Alegrete,
por essas brincadeiras do destino, tem ou teve vários desses mutantes. Não é a
toa que a cidade sediou, há algum tempo, um congresso de Ufos. Alguns desses
mutantes estão vivos, outros não.
Um
deles, neste momento, nos deixou. Seu nome é Fernando Machado Silveira Neto.
Deve estar chegando à sua pátria, muito distante daqui.