domingo, 30 de setembro de 2012




gratidão




sábado, 29 de setembro de 2012



Relator do processo do mensalão prepara penas duras para Dirceu e Delúbio



Brasília - O relator do processo do mensalão no Supremo Tribunal Federal, ministro Joaquim Barbosa, vai impor penas mais duras a três figuras centrais do escândalo: o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, considerado o “mentor” do esquema de pagamento de parlamentares no governo Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, considerado o “organizador”, e o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, chamado de “operador” do mensalão.

Outros réus terão tratamento mais brando. Segundo dois ministros do tribunal ouvidos em conversas reservadas pelo jornal O Estado de S. Paulo, o presidente do PTB, Roberto Jefferson, por exemplo poderá ter pena mais leve por ter prestado depoimentos que contribuíram para o Ministério Público embasar as acusações.

Ainda segundo os ministros ouvidos pela reportagem, o ex-presidente do PT José Genoino, apesar de ter assinado os empréstimos bancários considerados fraudulentos e que serviram para financiar o esquema e tentar ocultar a origem pública do dinheiro, poderá ter tratamento mais brando caso venha a ser condenado. Ministros argumentam que Genoino não agia como presidente de fato do PT, função que seria ocupada na verdade por Dirceu.

A atuação desses réus apontados como os corruptores do esquema do mensalão será analisada a partir de segunda-feira (1/10), na semana que precede as eleições municipais de 7 de outubro, pelo plenário do Supremo.

O voto de Barbosa com a condenação de réus por lavagem de dinheiro em etapa anterior do julgamento mostrou como ele deve calcular as penas. Na ocasião, a dosimetria foi divulgada por engano por sua assessoria. Ao calcular a pena de Marcos Valério, Barbosa considerou que o empresário dirigiu “a atividade dos réus integrantes do chamado núcleo publicitário” e recordou que ele prestou “inestimável apoio empresarial” à estrutura do esquema. Por isso, estabeleceu a pena em 12 anos e 7 meses de reclusão.

Debate

A definição das penas, conforme ministros da Corte, deve gerar debates tão intensos quanto as discussões do julgamento do mérito. A dosimetria pode definir se um réu cumprirá a pena em regime fechado ou em liberdade. Pelo Código Penal, quem for condenado a mais de oito anos começa a cumprir a pena em regime fechado, os que receberem penas entre quatro e oito anos podem ser enquadrados em semiaberto e quem ficar abaixo de quatro anos pode cumprir a punição em regime aberto ou até conseguir convertê-la em pena alternativa. Não contarão para este cálculo penas aplicadas que já estiverem prescritas.

A fixação das penas é a última etapa do julgamento. Depois que todos os réus forem condenados, o relator julgará qual a pena mais adequada para cada réu, levando em conta os antecedentes dos crimes, o volume de dinheiro envolvido, o motivo do crime e a reprovabilidade da conduta. Antes de iniciarem esta definição, os ministros deverão discutir se aqueles que votaram pela absolvição participarão ou não deste cálculo das penas.

No entendimento de alguns ministros, quem absolveu deve votar, sim, na dosimetria, aplicando a pena mais baixa. Outros, no entanto, entendem que isso não seria possível por não ser racional “absolver fixando pena”. O ministro Luiz Fux, que tem seguido a maioria das condenações de Barbosa, é um dos que já defenderam publicamente a exclusão de quem votou pela absolvição do cálculo das penas. 

quinta-feira, 27 de setembro de 2012



Fim melancólico






Quem diria, heim? A ARENA, partido que foi suporte político da ditadura militar, depois metamorfoseado em PDS, PPB e a agora, PP, encolhido, vertiginosamente com a fuga de seus políticos para a base governista, virou mercadoria de manobra pelo governo do Partido dos Trabalhadores. Mercadoria paga regiamente, como se viu agora.


Que vergonha, PP! O partido do senador Daniel Krieger, invadido por gangsteres, na figura de dois Pedros, o Correa e Henry , de dois Josés, o Borba e o Janene, (este último evadido da justiça por via celestial), todos sob a batuta do bandido maior, Paulo Maluf.

Que vergonha, PP, o partido que mandava e desmandava no Brasil, partido que apoiou integralmente o AI-5, que avalizou a tortura e o assassinato de pretensos opositores, virou capacho do PT. Que fim melancólico!







JANIO DE FREITAS

Dois pesos e dois mensalões

A premissa de serem crimes conexos os atribuídos aos réus do mensalão do PT não valeu para o mensalão mineiro

Na sua indignação com o colega Ricardo Lewandowski, o ministro Joaquim Barbosa cometeu uma falha, não se sabe se de memória ou de aritmética, que remete ao conveniente silêncio de nove ministros do Supremo Tribunal Federal sobre uma estranha contradição sua. São os nove contrários a desdobrar-se o julgamento do mensalão, ou seja, a deixar no STF o julgamento dos três parlamentares acusados e remeter o dos outros 35, réus comuns, às varas criminais. De acordo com a praxe indicada pela Constituição.

Proposto pelo advogado Márcio Thomaz Bastos e apoiado por longa argumentação técnica de Lewandowski, o possível desdobramento exaltou Barbosa: “Essa questão já foi debatida aqui três vezes! Esta é a quarta!” Não era. Antes houve mais uma. As três citadas por Barbosa tratavam do mensalão agora sob julgamento. A outra foi a que determinou o desdobramento do chamado mensalão mineiro ou mensalão do PSDB. Neste, o STF ficou de julgar dois réus com “foro privilegiado”, por serem parlamentares, e remeteu à Justiça Estadual mineira o julgamento dos outros 13.

Por que o tratamento diferenciado?

Os nove ministros que recusaram o desdobramento do mensalão petista calaram a respeito, ao votarem contra a proposta de Márcio Thomaz Bastos. Embora a duração dos votos de dois deles, Gilmar Mendes e Celso de Mello, comportasse longas digressões, indiferentes à pressa do presidente do tribunal, Ayres Britto, em defesa do seu cronograma de trabalho.

A premissa de serem crimes conexos os atribuídos aos réus do mensalão petista, tornando “inconveniente” dissociar os processos individuais, tem o mesmo sentido para o conjunto de 38 acusados e para o de 15. Mas só valeu para um dos mensalões.

Os dois mensalões também não receberam idênticas preocupações dos ministros do Supremo quanto ao risco de prescrições, por demora de julgamento. O mensalão do PSDB é o primeiro, montado já pelas mesmas peças centrais -Marcos Valério, suas agências de publicidade SMPB e DNA, o Banco Real. Só os beneficiários eram outros: o hoje deputado e ex-governador Eduardo Azeredo e o ex-vice-governador e hoje senador Clésio Andrade.
A incoerência do Supremo Tribunal Federal, nas decisões opostas sobre o desdobramento, é apenas um dos seus aspectos comprometedores no trato do mensalão mineiro. A propósito, a precedência no julgamento do mensalão do PT, ficando para data incerta o do PSDB e seus dois parlamentares, carrega um componente político que nada e ninguém pode negar.

A Polícia Federal também deixa condutas deploráveis na história do mensalão do PSDB. Aliás, em se tratando de sua conduta relacionada a fatos de interesse do PSDB, a PF tem grandes rombos na sua respeitabilidade.
Muito além de tudo isso, o que se constata a partir do mensalão mineiro, com a reportagem imperdível de Daniela Pinheiro na revista “piauí” que chegou às bancas, é nada menos do que estarrecedor. O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, com seu gosto de medir o tamanho histórico dos escândalos, daria ali muito trabalho à sua tortuosa trena. Já não será por passar sem que a imprensa e a TV noticiosas lhes ponham os olhos, que o mensalão do PSDB e as protetoras deformidades policiais e judiciais ficarão encobertas.

É hora de atualizar o bordão sem mudar-lhe o significado: de dois pesos e duas medidas para dois pesos e dois mensalões.


  che, 
mito
  



Jaime Costa Vásquez, um ex-comandante do exército revolucionário conhecido como “El Catalán”, disse recentemente que Che “não sabia andar de motocicleta!” E Jaime saberia porque ele participou do malfadado assalto de Castro ao Quartel Moncada em 1953, e esteve a bordo do iate Granma em sua expedição junto com Che Guevara, Castro e com seu irmão Raúl, para se infiltrar em Cuba e lutar contra Batista.

Costa, agora com seus setenta anos, fez esse comentário em 29 de setembro de 2004, em Nova York, durante a apresentação do seu livro de memórias, respondendo a uma pergunta da platéia sobre o filme “Diários de Motocicleta” (Robert Redford, seu produtor executivo, é um descarado colaborador de Castro). Costa conheceu Castro, Raúl e Che pessoalmente por muitos anos.

Ele acrescentou que “inequivocamente” sabe desse detalhe porque em várias ocasiões ele foi de motocicleta aos redores de Havana com Castro e seus camaradas, e “Che nunca foi junto com eles mesmo quando pediam para acompanhá-los. Tudo o que ele fazia era acenar um “Tchau” timidamente, porque ele não sabia pilotar uma motocicleta!”
Uma pessoa presente nessa apresentação comentou: “Ah, a fábrica de mitos da esquerda que incessantemente o diviniza! Daqui a pouco o terão descendo dos céus em uma nuvem!”

Outra pessoa familiarizada com a história da Revolução cubana me disse: “É bom saber disso, mas, por favor, informe a Harley-Davidson Corporation antes que eles coloquem o Che em um comercial.”

“Eu poderia acrescentar que o Dr. Guevara, como todos os seus outros personagens de histórias em quadrinhos, é essencialmente mítico, ou no mínimo fictício.

“Embora estivesse lá em pessoa, Guevara era tão desconectado dos fatos atuais de como a então chamada Revolução Cubana tornou-se conhecida, que, em certo sentido, é completamente patético. Ele interpretou uma novela cubana como se ela tivesse sido a Ilíada. Ele projetou a épica Grande Marcha de Mao Tsé-Tung para a batalha da província de Santa Clara, Cuba, em resultado um café-com-leite tornado possível com o dinheiro com que Julio Lobo e outros companheiros magnatas cubanos compraram o miserável exército de Batista.

“Então, quando ele tentou replicar aquilo na Bolívia, e o Exército Boliviano lutou de verdade – incidentalmente em um território bem mais rígido do que o de Cuba – a operação de Guevara foi rapidamente desvendada e ele terminou como um pedaço de bife na tábua de uma cozinha boliviana, um destino que nenhum dos seus outros seguidores lunáticos de extrema-esquerda se considerou apto a imitar.

“O problema com Che Guevara é que ele não é um mito positivo saudável à vida, mas um mito completamente contraproducente que alimenta os piores e mais destrutivos impulsos na mentalidade latino-americana – o que eu chamo de “política de ginásio” – combinada com uma compreensão adolescente do mundo e um desejo niilista de martírio (e até mesmo com direito a uma boa dose de necrofilia argentina brega). Lembremo-nos de que a canonização de Guevara começou com aquela foto infame dele morto, parecendo um Cristo de Mantegna.

“Guevara foi catastrófico para Cuba, e teria sido catastrófico para toda a América Latina não fosse seu prematuro desaparecimento.

“Guevara é hoje digno de zombaria, e o mais triste de tudo isso é que ninguém fez a ele o que Michael Moore fez a Bush, ou seja, uma boa paródia.

“Nós o tratamos como uma lenda, um Prometeu, figura quase trágica, em vez do que ele realmente foi: um médico nada bom, um Mickey Mouse com uma boina, um moleque argentino mimado que quase por acidente entrou – já não se pode mais dizer que foi de motocicleta – em uma vigarice política aspirada a ser chamada de revolução.

“Tratem-no pelo que ele realmente foi – ele até se parecia um pouco com ele –: o Cantinflas da Revolução Cubana.”

Micos de Motocicleta - Agustín Blázquez


quarta-feira, 19 de setembro de 2012

terça-feira, 18 de setembro de 2012




‘Posto que é chama’: Vinicius bebeu antes de escrever isso?

Aprendi em meus estudos de português ao longo da vida (com gramáticas, professores etc.) que a conjunção ‘posto que’ tinha sentido concessivo. No entanto, praticamente todas as pessoas do meio jurídico (em que trabalho), até mesmo juízes, a utilizam com sentido explicativo. Para piorar, sempre recordo dos versos de Vinicius de Moraes: ‘Que não seja imortal, posto que é chama/ Mas que seja infinito enquanto dure’. Teria o poetinha errado ao utilizar o ‘posto que’ como conjunção explicativa ou eu é que não compreendi o soneto? Afinal, embora o ‘mas’ indique oposição entre a primeira frase e a segunda (parecendo confirmar a utilização do ‘posto que’ como concessão), uma chama não é imortal – pelo menos até onde sei. Desde já, obrigada! (Thalita Arouche)
Em primeiro lugar, é muito provável que o poeta Vinicius de Moraes (1913-1980) tivesse, sim, tomado algumas doses de “cachorro engarrafado” – isto é, de uísque, que ele chamava de “o melhor amigo do homem” – quando escreveu sua obra-prima Soneto de fidelidade, onde Thalita foi buscar os versos acima. Não se deve ver nisso, porém, nada além de um cálculo estatístico que leva em conta a baixa frequência de momentos de sobriedade em sua vida. No estilo ao mesmo tempo rigoroso e fluido do soneto, um dos mais perfeitos de nossa literatura, não se percebe o menor traço de embriaguez.
No entanto, Vinicius contrariou frontalmente a gramática tradicional com seu uso de “posto que” como conjunção explicativa (ou causal, dependendo do autor), bem observado por Thalita. O sentido dos versos é claro: o amor não é imortal, visto que é chama, isto é, por ser chama, mas o poeta deseja que, enquanto durar, tenha brilho infinito. Só que Vinicius optou por não usar o “visto que”, que, além de caber na métrica, agradaria aos conservadores da língua. Foi mesmo de “posto que”, uma locução conjuntiva controversa.
Os gramáticos tradicionais atribuem a “posto que” valor exclusivamente concessivo, o mesmo de “embora”, como na seguinte frase: “Gosto dele, posto que seja meio antipático”. Para eles, qualquer uso diferente é erro e pronto. O português brasileiro, porém, ignora há muitas décadas essa análise e insiste em empregar “posto que” com papel explicativo. Isso não se dá por ignorância, ou não apenas por ignorância: encontra acolhida entre falantes cultos e parece se basear numa análise alternativa da expressão. Regras mudam.
Nenhuma novidade nisso. Um exemplo de como o reino das conjunções sempre foi movediço é o uso que o padre Antônio Vieira e outros autores antigos faziam da conjunção “segundo” – hoje empregada apenas em papel conformativo, como sinônimo de “conforme” – com sentido causal: “Mais nascimentos havíamos mister, segundo são muitas as mortes”.
Deliberadamente ou não, Vinicius de Moraes, um dos mestres indiscutíveis do português brasileiro, tomou o partido da língua viva – o que no caso dele faz o maior sentido – e deu ao pessoal da linha dura gramatical uma dor de cabeça infinita (enquanto durar): se abonações literárias sempre foram as cartas mais valiosas de seu jogo, numa mesa de pôquer o Soneto de fidelidade seria um royal straight flush.

Sérgio Rodrigues - Sobre palavras
blogue do zeca
Obrigado, Marlene

segunda-feira, 17 de setembro de 2012


A QUARTA CÓPIA, POR RICARDO NOBLAT


Dá-se a prudência como característica marcante dos mineiros.
Teria a ver, segundo os estudiosos, com a paisagem das cidadezinhas de horizonte limitado, os depósitos de ouro e de pedras preciosas explorados no passado até se esgotarem, e a cultura do segredo e da desconfiança daí decorrente.
Não foi a imprudência que afundou a vida de Marcos Valério. Foi Roberto Jefferson mesmo ao detonar o mensalão.
Uma vez convencido de que o futuro escapara definivamente ao seu controle, Valério cuidou de evitar que ele se tornasse trágico.
Pensou no risco de ser morto. Não foi morto outro arrecadador de recursos para o PT, o ex-prefeito Celso Daniel, de Santo André?
Pensou na situação de desamparo em que ficariam a mulher e dois filhos caso fosse obrigado a passar uma larga temporada na cadeia. E aí teve uma ideia.


Ainda no segundo semestre de 2005, quando Lula até então insistia com a lorota de que mensalão era Caixa 2, Valério contratou um experiente profissional de televisão para gravar um vídeo.
Poderia, ele mesmo, ter produzido um vídeo caseiro. De princípio, o que importava era o conteúdo. Mas não quis nada amador.
Os publicitários de primeira linha detestam improvisar. Valério pagou caro pelo vídeo do qual fez quatro cópias, e apenas quatro.
Guardou três em cofres de bancos. A quarta mandou para uma das estrelas do esquema do mensalão, réu do processo agora julgado pelo Supremo Tribunal Federal.
Renilda, a mulher dele, sabe o que fazer com as três cópias. Se Valério for encontrado morto em circunstâncias suspeitas ou se ele desaparecer sem dar notícias durante 24 horas, Renilda sacará dos bancos as três cópias do vídeo e as remeterá aos jornais O Estado de São Paulo, Folha de S. Paulo e O Globo. (Sorry, VEJA!)
O que Valério conta no vídeo seria capaz de derrubar o governo Lula se ele ainda existisse, atesta um amigo íntimo do dono da quarta cópia.
Na ausência de governo a ser deposto, o vídeo destruiria reputações aclamadas e jogaria uma tonelada de lama na imagem da Era Lula. Lama que petrifica rapidinho.
A fina astúcia de Valério está no fato de ele ter encaminhado uma cópia do vídeo para quem mais se interessaria por seu conteúdo. Assim ficou provado que não blefava.
Daí para frente, sempre que precisou de ajuda ou consolo, foi socorrido por um emissário do PT. Na edição mais recente da VEJA, Valério identifica o emissário: Paulo Okamotto.
Uma espécie de tesoureiro informal da família Lula da Silva, Okamotto é ligado ao ex-presidente há mais de 30 anos.
No fim de 2005, um senador do PT foi recebido por Lula em seu gabinete no Palácio do Planalto. Estivera com Valério antes. E Valério, endividado, queria dinheiro. Ameaçava espalhar o que sabia.
Lula observou em silêncio a paisagem recortada por uma das paredes envidraçadas do seu gabinete. Depois perguntou: "Você falou sobre isso com Okamotto?"
O senador respondeu que não. E Lula mais não disse e nem lhe foi perguntado. Acionado, Okamotto cumpriu com o seu dever. Pulou-se outra fogueira. Foram muitas as fogueiras.
Uma delas foi particularmente dramática.
Preso duas vezes, Valério sofreu certo tipo de violência física que o fez confidenciar a amigos que nunca, nunca mais voltará à prisão. Prefere a morte.
Valério acreditou que o prestígio de Lula seria suficiente para postergar ao máximo o julgamento do processo do mensalão, garantindo com isso a prescrição de alguns crimes denunciados pela Procuradoria Geral da República.
Uma eventual condenação dele seria mais do que plausível. Mas cadeia? E por muito tempo?
Impensável!
Pois bem: o impensável está se materializando. E Valério está no limiar do desespero.

Obrigado, Quidinho


sábado, 15 de setembro de 2012




A atriz e o julgamento

14 de setembro de 20127
Li que a atriz Mayana Alves, uma morena com aragem de miss, que algum dia deve ter feito muito sucesso em alguma novela, ou talvez faça agora mesmo, pois li que essa atriz assiste ao julgamento do mensalão como se fosse filme de suspense.
Mayana não consegue despegar os grandes e amendoados olhos da tela azul da TV, e vibra a cada condenação, como se ganhasse um Kikito.
Sei que nem todos os brasileiros se sentem tão fascinados assim pelo julgamento quanto Mayana, mas todos os que conheço estão, como ela, torcendo pela condenação dos réus.
Muitos acreditam que a danação dos eventuais corruptos significará um marco para o país: será um sinal de que a nação não tolera mais a impunidade, e, daqui para frente, tudo será diferente.
Já eu aqui não acredito em nada disso.
Duvido que o Brasil vá avançar um palmo devido a esse julgamento, exatamente por causa do espírito que embala a morena Mayana e a maioria da população no acompanhamento dos votos dos juízes.
Porque o espírito que os move é um espírito de justiçamento, não de justiça.
Tome outro julgamento em outro país.
O do racista Breivik, que assassinou 77 pessoas na Noruega no ano passado.
Dificilmente qualquer gênero de corrupção será mais grave do que matar uma pessoa, quanto mais 77.
No entanto, os noruegueses não assistiram ao julgamento de Breivik “ torcendo” pela punição mais dura possível.
Certas pessoas “ do povo” que foram entrevistadas, assim como entrevistada foi a atriz Mayana, disseram apenas esperar que, durante o seu período na prisão, o assassino compreendesse como estava errado ao fazer o que fez.
E, depois da sentença de 21 anos de reclusão numa cela confortável e asseada, com TV a cores e banheiro limpo, nenhum norueguês reclamou da brandura da lei.
Nem os familiares das vítimas.
Breivik saiu da sala do tribunal empertigado e sorridente, arrogando- se vitorioso, lamentando não ter executado ainda mais gente.
Ainda assim, não houve, na Noruega, nenhuma manifestação de repúdio.
Confesso ter ficado um pouco chocado no início.
Era civilidade demais.
Depois refleti.
O norueguês confia no sistema.
O brasileiro suspeita do sistema.
Onde está o problema, neste caso? No brasileiro ou no sistema? O brasileiro confiaria mais se o sistema fosse melhor? Ou o sistema seria melhor se o brasileiro confiasse mais nele? Como tornar o brasileiro mais consciente e o sistema mais justo? Não sei.
Sei que nunca seremos noruegueses.
Nunca seremos tão civilizados.
Mas, olhando assim de longe para eles lá no alto, no lado de cima do Equador, penso que, pelo menos, poderíamos tentar.

David Coimbra


o cerco está fechando




SÃO PAULO - Reportagem da revista "Veja", publicada neste sábado, revela que o empresário Marcos Valério, apontado como o operador do mensalão, tem dito em conversas "com pessoas próximas" que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva era o "chefe" da quadrilha responsável por um dos maiores esquemas de corrupção do país.

"Não podem condenar apenas os mequetrefes. Só não sobrou para o Lula porque eu, o Delúbio e o Zé não falamos", teria dito Valério, na semana passada, segundo a revista. "Lula era o chefe" é uma das frases ouvidas pela "Veja" e atribuída ao empresário.

Em outra situação, Valério implicaria o ex-chefe da Casa Civil, José Dirceu, considerado como "o chefe da quadrilha", segundo a Procuradoria. Ao falar sobre a proximidade do ex-ministro com Lula, Valério teria dito: "Do Zé ao Lula era só descer a escada. Isso se faz sem marcar. Ele dizia (a Valério): vamos lá embaixo, vamos".

Valério ainda acusa o PT de tê-lo usado como "boy de luxo". "O PT me fez de escudo, me usou como boy de luxo. Mas agora vai todo mundo para o ralo", diz o empresário, segundo a revista. Marcos Valério, em conversas com amigos, ainda teria dito que o caixa do mensalão foi maior que os R$ 55 milhões apontados no relatório da Procuradoria Geral da República. Pelo esquema teriam passado R$ 350 milhões.

Ainda de acordo com a publicação, o ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, também réu no mensalão, era um dos interlocutores de Valério no Palácio da Alvorada. "O Delúbio dormia no Alvorada. Ele e a mulher dele iam jogar baralho com Lula à noite. Alguma vez isso ficou registrado lá dentro? Quando você quer encontrar (alguém), você encontra, e sem registro", dissera o empresário, de acordo com a revista.

Marcos Valério ainda teria revelado detalhes sobre o esquema envolvendo os empréstimos concedidos pelo Banco Rural às agências de publicidade que abasteceram o mensalão. Para Valério, a decisão do Rural de liberar o dinheiro não foi um favor a ele, mas ao governo Lula. "Você acha que chegou lá o Marcos Valério com duas agências quebradas e pediu: 'Me empresta aí 30 milhões de reais para eu dar para o PT'? O que um dono de banco ia responder?".



blogue do zeca

John Singer Sargent: Alberto Falchetti, 1905





MAIS UM

sexta-feira, 14 de setembro de 2012







QUEM CEDO MADRUGA,
PASSA O DIA COM SONO

AUTOR DESCONHECIDO, MAS MUITO INTELIGENTE






Mercedes Benz 


Oh Senhor, tem que me comprar uma Mercedes Benz.

Todos os meus amigos dirigem Porsches, eu preciso compensar.

Trabalhei duro a vida toda, sem ajuda de ninguém.

Então Senhor, não vai me comprar uma Mercedes Benz?

Oh Senhor, tem que me comprar uma TV em cores.

O Senhor está pedindo dinheiro. Está tentando me encontrar. Eu espero pela entrega cada dia até as três.

Então Senhor, não vai me comprar uma TV em cores? 

Oh Senhor, venceu, então vai me comprar uma noite na cidade?

Eu estou contando com o Senhor, por favor, não me decepcione.

Prove que me ama e pague a próxima rodada.

Oh Senhor, não vai me comprar uma noite na cidade?

Oh Senhor, não vai me comprar uma Mercedes Benz?

Todos os meus amigos dirigem Porsches, eu preciso compensar, trabalhei duro a vida toda, sem ajuda de ninguém.

Então Senhor, não vai me comprar uma Mercedes Benz? 



quarta-feira, 12 de setembro de 2012




La importancia  de no beber, he aquí un ejemplo.




Deseo compartir con ustedes, las experiencias relativas al beber y  conducir con tragos.

Hace un par de días, estando con algunos amigos, luego del almuerzo, al darme cuenta de que se me había  pasado la mano con el licor, hice algo que nunca antes había hecho: opté por tomar un bus e irme a mi casa.  
 
Llegar sano y salvo a mi casa fué una agradable sorpresa, considerando  que nunca en mi puta vida había manejado un bus y además, no sé dónde conseguí el que tengo estacionado frente a mi casa.


Gracias, Dila


segunda-feira, 10 de setembro de 2012





O fantasma do seu Pacheco

"...e olhando com o rabo do olho para ver se tinha toda a atenção"

  Eu entendo os que curtem o Acampamento Farroupilha de Porto Alegre não pelo lado cívico, digamos assim, mas pelo que ele é por si só. Acho até que o lado farroupilha é o de menos. Falamos da vida campeira, do mate, do assado na trempe, do fogo no galpão, da comida de panela e da canha que corre solta disputando espaço com a charla.   

  Eu entendo e até mais do que isso, gostaria de estar lá. Ou de voltar para os tempos em que seu Pacheco era capataz da Estância do Marco, quando o arroz ainda não dominava os campos. Chaleira chiando, noite caindo, fumaça no galpão, cheiro de pelego e conforto rude, chuva que Deus mandava e seu Pacheco lastimando que seus olhos já não enxergassem mais como antes.
  
  - Já não devulgo mais nada...

  Em épocas anteriores devulgava até demais. Alguns anos antes ele falava no mesmo cenário do açude do mato do fundo, de como dava peixe ali. E botando mais um pau de fogo e olhando com o rabo do olho para ver se tinha toda a atenção, falou com a voz mais solene que tinha.
   
 - Certa vez uns gringos pescaram naquele açude uma traíra que tinha um pivô de ouro...

  Rimos. No ano seguinte o seu Pacheco chegou no parapeito e falou que tinham pescado outra traíra, das grandes. 

   - Pelo que me contaram, era a dentista da outra, a que tinha pivô de ouro.

  Às vezes me dá saudade do seu Pacheco e do seu linguajar, dos seus causos e daquele tempo. Imagino que os fantasmas de Pachecos vagueiem nas noites de chuva entre os piquetes do Acampamento Farroupilha, parando aqui e ali para ouvir a prosa, sentir o cheiro de pelego e da madeira queimando e ouvindo causos sem poder participar, passando pelas frestas e sentando perto do fogo que já não os aquece mais.  




seres não civilizados












ser civilizado



obrigado, marlene

domingo, 9 de setembro de 2012


blogue do zeca


seu José
       
Detesto ser chamado de “Seu José”. Parece nome de dono de botequim. Infelizmente, isso começou a acontecer depois que atingi certa idade, talvez quarenta anos, não  lembro ao certo. Apesar de pedir para não ser chamado assim, parece que as pessoas mais jovens precisam me dar esse tratamento.

        O tratamento de “senhor” me parece ser uma demonstração de preconceito, tipo tu és diferente de mim, por ser idoso, por isso vou manter distância, te chamando de senhor.

        A comunicação poderia funcionar assim: um namorado de minha filha mais nova me chamava de tio. A partir daí, era tu para cá e tu para lá. Tudo bem.

        Tive um sócio, argentino, mais velho que eu, que, uma vez, disse que era tão íntimo de um juiz, para quem prestava serviços como perito judicial, que já se “tutiavam”. Perguntei a ele que isso significa e ele me informou que era tratar-se por tu.

        Bem, talvez a questão de tratamento seja uma coisa mais complexa. Me dei conta que chamo de senhora a uma tia mais velha. Talvez isso a incomode como incomoda a mim.

        Tenho pensado nessa questão. Lembrei-me que quando tinha dezesseis anos, participava da minha turma uma pessoa tão mais velha que nós não entendíamos que graça ela achava de conviver conosco. Afinal esse nosso amigo era um idoso, tinha vinte e sete anos.

        Vamos transpor essa situação para agora. Já fui jovem. Sei que ser jovem e idoso é exatamente a mesma coisa, em termo de comportamento (claro que fisicamente há algumas diferenças). Entretanto, tenho consciência de algo que nenhum jovem tem. Sei o que é ser idoso. Essa é a diferença. Um jovem, repito, não consegue pensar como um idoso, por mais que queira. Eu consigo pensar como jovem. Já vivenciei esta experiência, ele não.

        Então, “Seu José”, vamos ser mais tolerantes para com as diferenças.



sábado, 8 de setembro de 2012



cuidador

Todos somos cuidadores, em  algum momento de nossa vida. O cuidado a quem amamos (que pode ser amigo, parente ou o desvalido da rua) exige persistência e alguma dose de sacrifício. 

Pensando em uma estrutura para cuidar dos cuidadores, que às vezes, assumem compromissos superiores às suas forças, a arquiteta Marilice Costi criou grupos de trabalho para apoiá-los. Assim ela cuida de cuidadores.

Passem no site dela: http://www.ocuidador.com.br/ Ela quer dar apoio para quem cuida, mas também necessita apoio.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012



pensamentos


Estou mais calmo em relação aos sentimentos, pensamentos e ideias. Idade traz paz.
Gilberto Gil

Algum dia, talvez, nada mais vai ser assim. Algum dia, talvez, os homens terão a primavera que desejarem, no momento em que quiserem (...) E os pássaros serão outros, com outros cantos e outros hábitos, - e os ouvidos que por acaso os  ouvirem não terão mais nada mais com tudo aquilo que, outrora, se entendeu e amou.
Cecília Meireles




blogue do zeca



Ah! Essas esquerdas!

Durante minha juventude, escutava sempre o mesmo mantra: o capitalismo é um regime agonizante, o mundo encaminha-se para o socialismo, a história está a nosso favor.

Os teóricos do socialismo argumentavam que o grande mal do Brasil era a espoliação da sociedade brasileira pelo capitalismo selvagem internacional, orquestrado pelas multinacionais.

Havia uma tira em quadrinhos mostrando o Zé Brasil, um pobre brasileiro que durante o seu dia, desde a escovação de dentes matinal até o último gesto, antes de dormir, utilizava produtos fabricados por multinacionais.

Veio a ditadura militar e as esquerdas foram demonizadas. Grandes teóricos, como Celso Furtado, Florestan Fernandes e Fernando Henrique Cardoso sofrem perseguição do governo. A “inteligência” brasileira protestou.

O mundo mudou, os regimes comunistas caíram, ser esquerdista passou de moda. Agora, podemos olhar aqueles tempos desapaixonadamente.

Os problemas do Brasil foram mesmo causados pelas multinacionais?

O Zé Brasil, se não escovasse os dentes com escova e pasta de dentes produzidos por multinacionais, provavelmente não escovaria os dentes, considerando que o país não possuía indústria nacional. O resultado seria que os brasileiros, uma população de desdentados, teriam sua situação piorada.

Os militares odiavam qualquer tipo de pensamento independente. Para eles, a educação e a cultura cheiravam à subversão porque estavam ligados à liberdade de expressão. Durante o governo militar, Cassandra Rios, uma escritora pornográfica, foi perseguida pela censura, teve seus livros cassados e morreu esquecida. Mas ninguém da esquerda a defendeu.  Argumentavam que era má escritora. Mas má escritora não tem direito de escrever?

Vamos introduzir um exemplo fora de nossas fronteiras. A Coréia do Sul, há quarenta anos, tinha renda per capita menor do que a do Brasil. Fez maciços investimentos em educação e a uma geração de iletrados sucedeu uma geração com formação técnica altamente especializada e outra geração com ensino superior, mestrado e doutorado. É um dos países onde são registradas mais patentes no mundo.

A Coréia do Norte fez a experiência comunista que os jovens brasileiros sonhavam. Deu no que deu, uma tirania que passa de pai para filho, com a população famélica, vivendo em um grande campo de concentração.

Então o problema não é ideológico, mas sim de educação. Um povo instruído será vitorioso com qualquer regime. E este é um ponto em que, no Brasil, esquerdas e regime militar juntaram-se as mãos. Ambos desprezaram a educação.

Quando as esquerdas tomaram o poder no Brasil, por via do voto, o operariado foi endeusado, como em um bom e antigo romance comunista. Mas quem quer ser operário? As condições em uma indústria são difíceis, penosas e até insalubres. Muito mais fácil é ganhar a vida prestando serviços, uma atividade mais gratificante, criativa e com tempo de trabalho flexível, do que sofrer oito horas diárias em uma fábrica. Entretanto, a prestação de serviço é atividade de país desenvolvido, que exige educação. A da indústria nem tanto.

Por que, então, as lideranças do Brasil, de esquerda e de direita desprezam a educação?

A resposta está mais recuada no tempo. Desde o tempo do Brasil colonial, a ignorância do povo foi arma de manobra dos poderosos. O analfabetismo facilitava a exploração do trabalho urbano, industrial, comercial e doméstico, enquanto, no campo, permitia aos grandes proprietários de terras tratarem seus empregados e agregados em regime de semiescravidão.

A situação presente melhorou, e muito, considerando a terrível situação do Brasil na educação. Mas os esforços no sentido de erradicar a ignorância são tímidos e desconexos, como se a amarrados, ainda, a nossas arcaicas tradições.