domingo, 21 de dezembro de 2014






 A Venezuela vende 80% de seu Petróleo aos EUA. Apesar disso, o caudilhinho com bigode anacrônico vive cuspindo diatribes contra americanos. Parece que esse fato nunca tirou o sono  dos vizinhos.

E o rato ameaçando o elefante. Agora a Venezuela está quebrada porque Seu único PRODUTO de exportação, o petróleo, caiu de preço. Sabendo disso, os dirigentes cubanos, que correm o risco de perder o sustento de Maduro, como já perderam da ex-União Soviética, aceitam negociar com a pátria do capitalismo. 


Um povo pode ser subjugado enquanto o regime lhe fornece condições mínimas de sobrevivência. Se não, vomita seus governantes. Maduro sifu.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014




MILITARES, LULA, bolsonaro e o canto da sereia

        Era início de 1964. Termo desconhecido para a época, “estava tudo dominado”. Os generais subservientes a Washington dariam o golpe, derrubando o presidente João Goulart. Ele era político que causava profunda irritação aos americanos, por causa de seu discurso nacionalista. O governo americano sempre foi muito cioso de seus empreendimentos além-fronteiras.

        Havia um “plano B”. Se os generais falhassem, a sétima frota estaria de prontidão nas costas brasileiras e, aí, a invasão dos marines seria inevitável. De qualquer forma, a frágil democracia brasileira seria derrubada.   

Provavelmente, se os americanos tivessem nos invadido, o primeiro ditador não seria Castelo Branco e, sim, Lincoln Gordon.

        Não houve necessidade de invasão. Os militares brasileiros fizeram o serviço sujo. Não foi difícil. Eles tinham sido cooptados desde o fim da segunda guerra mundial. Havia, é claro, o perigo comunista. Bastava compará-lo ao nazista para que nossos homens de verde tivessem urticária. Naturalmente, certo apoio financeiro foi necessário para o convencimento dos líderes revolucionários.

         João Goulart não era comunista. Pelo contrário, pertencia à classe conservadora, a elite do país. Era um dos maiores latifundiários do Rio Grande do Sul. Certamente um oportunista que verificou haver forte reação do país ao capital estrangeiro e transformou isso em discurso político.·.
       
        O primeiro militar presidente foi o Mal. Castelo Branco. Sua admiração ao “american way of life” era total.

        Castelo Branco sabia que a presença dos militares no comando do país seria desastrosa, principalmente para eles mesmos. Tomou posse prometendo eleições gerais para o próximo ano (1965).

        Não conseguiu fazer as eleições e acabou morrendo misteriosamente. A sedução do poder é uma força fortíssima, quase irresistível. A ditadura militar durou 21 anos e os militares somente entregaram o comando quando o país estava quebrado, sem apoio popular e a situação dos quartéis era anárquica.

        Isso é história. Vivemos, desde 1985, em uma democracia, talvez menos frágil que a anterior.

        Mas a história se repete. Os atuais detentores do poder também provaram suas delícias e também querem se eternizar no comando do país. O discurso não é diferente do de João Goulart, o plano é de uma república sindicalista. O poder é uma amante irresistível. As promessas precisaram ser douradas com acenos de justiça social, para serem palatáveis. Foi implantado o bolsa família, virtuoso em sua gênese, mas que fraqueja se o país não se modernizar. Só que a modernização não pode ser feita, retira poder.

        Dizem que os extremos se tocam. Os fins últimos dos militares e dos sindicalistas foi a tomada do poder. A prova disto é que Lula é hoje um feliz representante das elites.

        Que Bolsonaro tem a ver com isso? O capitão Bolsonaro, ao contrário do que aparenta sua figura pública, é uma pessoa inteligente, calculista e tem profundos conhecimentos de tática e estratégia. Ele também quer o poder. Quer ser presidente da república. Se possível, ainda em 2018. Embora pregue golpe de Estado, almeja chegar ao governo federal nos braços do povo. Tal como Hugo Chaves, que adquiriu experiência na caserna e foi eleito presidente da Venezuela depois de fracassada tentativa golpista.

        O eleitorado de Bolsonaro é a classe média, incluída a classe média oriunda da pobreza através do bolsa família. Essa classe é conservadora e almeja estabilidade e segurança. Está assustada com a violência epidêmica que grassa no país. Estranhamente, nenhum dos candidatos a presidente, nesta última eleição, apresentou um plano consistente para reduzir a criminalidade no país.

        Bolsonaro vai basear sua plataforma política justamente em um plano com este objetivo, seja ele qual for. Também vai bater muito no PT, porque aproveitará o desgaste do partido, com 18 anos de governo.

        Militares, sindicalistas, Bolsonaro todos tem o mesmo objetivo. O canto da sereia. Deus nos proteja.



terça-feira, 2 de dezembro de 2014



Um sorriso que chora
                                                                                             
                                                                            Maria Avelina Fuhro Gastal

                       

                  
                            Há muito se perderam nas palavras. Do encontro entre o dito e o escutado restam cicatrizes e feridas abertas.

                            Aos poucos, as vozes deram vez ao silêncio. Na tentativa de não ferir, nem ser ferido, calaram seus temores e, junto com eles, o amor perdeu sua vez.

                            No vazio produzido pelo não-dito, a intimidade foi sufocada. Hoje tateiam-se como dois estranhos.

                            Ela manuseia as roupas como se fosse um ritual. Coloca em cada dobra o seu ressentimento e amargura. Na perfeição da peça, a tentativa de reorganizar-se. Não tem urgência, mas está determinada. Quer deixar ali toda a dor e levar só a coragem para recomeçar.

                            Não está sendo impulsiva. Apenas sente-se vencida pelo cansaço e pela desesperança. Quer manter entre eles um pouco do afeto que os uniu.

                            O dia se desfez nas dobraduras e a noite já espia por entre as frestas.

                            Pensou em deixar um bilhete. Não achou digno. Apesar de tudo, eles merecem mais. Quer um último ato respeitoso e definitivo.

                            A fraca luz do abajur ilumina o ambiente com a suavidade que o momento requer. Ela se deixa abandonar na poltrona, atenta aos sons que vêm da rua.

                            O estalar do elevador e o tilintar das chaves a impulsionam. De um salto, levanta-se, alisando a saia, a blusa e os cabelos. Qualquer desalinho seu será imperdoável. Não pode enfraquecer, nem perder-se agora.

                            Ao mesmo tempo em que ele abre a porta e entra, ela pega a mala e se dirige para a saída. Seus olhos se cruzam. Os dele se voltam para a mão dela e retornam, em tom de dúvida (ou será de desespero?) para o seu rosto.

                            Com um sorriso que chora, ela toca suavemente o rosto dele e sai. Ele se vira a tempo de buscar a mão dela. Segura-a com um afeto há muito adormecido. Ela solta a mala, envolve aquela mão que tantas vezes a fez estremecer ao toque, roça os lábios levemente no seu dorso e a solta. Pega a mala, entra no elevador e parte.