MILITARES, LULA, bolsonaro e o canto
da sereia
Era início de 1964. Termo desconhecido para a época, “estava tudo
dominado”. Os generais subservientes a Washington dariam o golpe, derrubando o
presidente João Goulart. Ele era político que causava profunda irritação aos
americanos, por causa de seu discurso nacionalista. O governo americano sempre
foi muito cioso de seus empreendimentos além-fronteiras.
Havia
um “plano B”. Se os generais falhassem, a sétima frota estaria de prontidão nas
costas brasileiras e, aí, a invasão dos marines seria inevitável. De qualquer
forma, a frágil democracia brasileira seria derrubada.
Provavelmente, se os americanos tivessem nos invadido, o primeiro
ditador não seria Castelo Branco e, sim, Lincoln Gordon.
Não
houve necessidade de invasão. Os militares brasileiros fizeram o serviço sujo.
Não foi difícil. Eles tinham sido cooptados desde o fim da segunda guerra
mundial. Havia, é claro, o perigo comunista. Bastava compará-lo ao nazista para
que nossos homens de verde tivessem urticária. Naturalmente, certo apoio
financeiro foi necessário para o convencimento dos líderes revolucionários.
João Goulart não era comunista. Pelo
contrário, pertencia à classe conservadora, a elite do país. Era um dos maiores
latifundiários do Rio Grande do Sul. Certamente um oportunista que verificou haver
forte reação do país ao capital estrangeiro e transformou isso em discurso
político.·.
O
primeiro militar presidente foi o Mal. Castelo Branco. Sua admiração ao
“american way of life” era total.
Castelo
Branco sabia que a presença dos militares no comando do país seria desastrosa,
principalmente para eles mesmos. Tomou posse prometendo eleições gerais para o
próximo ano (1965).
Não
conseguiu fazer as eleições e acabou morrendo misteriosamente. A sedução do
poder é uma força fortíssima, quase irresistível. A ditadura militar durou 21
anos e os militares somente entregaram o comando quando o país estava quebrado,
sem apoio popular e a situação dos quartéis era anárquica.
Isso
é história. Vivemos, desde 1985, em uma democracia, talvez menos frágil que a
anterior.
Mas
a história se repete. Os atuais detentores do poder também provaram suas
delícias e também querem se eternizar no comando do país. O discurso não é
diferente do de João Goulart, o plano é de uma república sindicalista. O poder
é uma amante irresistível. As promessas precisaram ser douradas com acenos de
justiça social, para serem palatáveis. Foi implantado o bolsa família, virtuoso
em sua gênese, mas que fraqueja se o país não se modernizar. Só que a
modernização não pode ser feita, retira poder.
Dizem
que os extremos se tocam. Os fins últimos dos militares e dos sindicalistas foi
a tomada do poder. A prova disto é que Lula é hoje um feliz representante das
elites.
Que
Bolsonaro tem a ver com isso? O capitão Bolsonaro, ao contrário do que aparenta
sua figura pública, é uma pessoa inteligente, calculista e tem profundos
conhecimentos de tática e estratégia. Ele também quer o poder. Quer ser
presidente da república. Se possível, ainda em 2018. Embora pregue golpe de
Estado, almeja chegar ao governo federal nos braços do povo. Tal como Hugo
Chaves, que adquiriu experiência na caserna e foi eleito presidente da
Venezuela depois de fracassada tentativa golpista.
O
eleitorado de Bolsonaro é a classe média, incluída a classe média oriunda da
pobreza através do bolsa família. Essa classe é conservadora e almeja
estabilidade e segurança. Está assustada com a violência epidêmica que grassa
no país. Estranhamente, nenhum dos candidatos a presidente, nesta última
eleição, apresentou um plano consistente para reduzir a criminalidade no país.
Bolsonaro
vai basear sua plataforma política justamente em um plano com este objetivo,
seja ele qual for. Também vai bater muito no PT, porque aproveitará o desgaste
do partido, com 18 anos de governo.
Militares,
sindicalistas, Bolsonaro todos tem o mesmo objetivo. O canto da sereia. Deus
nos proteja.