MATERNIDADE
sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014
ARANHA
Conheci o Lauro Fernando Estivalet Machado da
Silveira no primeiro dia de aula. Chamava atenção seu uniforme cáqui novinho em
folha. Mais tarde ele contou que tinha morado em Erechim e que seu pai, o Seu
Júlio, tinha sido transferido, pelo Correio, para Alegrete.
Lauro era uma simpatia. Conquistou a todos
instantaneamente. Quando chegou o verão, já amigos, fomos todos tomar
banho no rio Ibirapuitã. Naquela época, a moda era usar os fundos do CTG
Farroupilha. Na beira do rio, havia um pequeno trampolim. Fizemos fila e todos
nos atiramos n’água. Vimos, então, uma
mão acenando. Era a mão do Lauro. Ele não sabia nadar. Quando viu todo o mundo
se jogando, foi junto. Esqueceu-se de perguntar se ali era fundo. Na verdade,
era muito fundo. Nesse dia, salvamos a vida do Lauro.
Foi nesse dia também que nasceu o apelido do
Lauro, pelo qual ele seria conhecido por todos nós. Reparamos que ele tinha as
pernas fininhas e peludas. Daí para o apelido de Aranha foi um passo.
Quando começaram as reuniões dançantes na
casa do Fernando Maçarico, Luiza Maria e Aydinha, Aranha revelou-se um exímio
dançarino de rock’n’roll. Bastava a eletrola tocar Elvis Presley, Neil Sedaka
ou Paul Anka, ou mesmo a nacional Cely Campelo e todos paravam para ver Lauro e
Luiza fazerem os mais incríveis passos de dança.
Mais tarde, quando vim morar em Porto Alegre,
perdi contato com o Lauro. Mas sempre que ia a Alegrete, matava a saudade
daquelas nossas músicas de adolescência na casa do Aranha, naturalmente. Ele
tinha todos os long-plays quentes da época.
Lauro transformou seu amor por música em
profissão. Abriu uma loja de som na parte da frente de sua casa e produzia os áudio cassetes
de maior sucesso na cidade.
Uma ocasião que estive com o Lauro, ele tinha
criado uma antecipação de home theater. Ligou um vídeo cassete estéreo a uma
aparelhagem de som. Assim com a imagem de uma TV de 20 polegadas, assistíamos
shows e musicais com um sonzaço.
Depois soube que Lauro havia se mudado para o
litoral, junto com a Regina, sua esposa. Andei ensaiando visitas para ele, que
nunca se concretizaram. Há poucos meses,
andei ligando. Ele me disse estar muito deprimido, com Mal de Parkinson. Mais
uma vez programei uma visita, que foi sendo adiada.
Agora a visita tornou-se desnecessária. Lauro
se foi. Com ele foi uma parte importante de minha vida, a parte mágica da
adolescência. Ficou uma lembrança doce de nossa amizade, quando ele se fazia
anunciar, no pátio de minha casa, assobiando Tequila, de Perez Prado.
terça-feira, 18 de fevereiro de 2014
domingo, 16 de fevereiro de 2014
RUÍDO DE TACO DE BEISEBOL ROMPENDO A CABEÇA DE
ALGUÉM
Quantas vezes, ao contemplar os créditos de um
filme, você já não se perguntou que diabo essas figuras fazem numa produção
cinematográfica?
E quantas vezes você pediu ajuda a um cinéfilo e ficou na mesma, pois nem ele sabia qual a exata função de um gaffer ou um best boy? Nem os americanos sabem, exceto, evidentemente, os que trabalham na indústria de filmes.
''Grip” já foi dicionarizado. A versão brasileira do Webster o define como carpinteiro. Por analogia, “key grip” seria o carpinteiro-chefe. Não é. São chamados de grip aqueles sujeitos que carregam e põem em ordem os mais variados equipamentos num set de filmagem e nas locações. O grip desloca móveis, monta câmera, empurra carrinho, puxa fio, ajuda a grua a subir, jamais pega num serrote ou numa plaina.
''Gaffer”, que em sua acepção corriqueira significa capataz, é o chefe dos eletricistas. Trabalha com o diretor de fotografia, arrumando as luzes necessárias à iluminação de cada cena, comandando uma equipe de eletricistas e cuidando do estoque de material do seu setor. Seu principal assistente é o best boy, assim chamado mesmo quando uma pessoa do sexo feminino exerce a função.
E quantas vezes você pediu ajuda a um cinéfilo e ficou na mesma, pois nem ele sabia qual a exata função de um gaffer ou um best boy? Nem os americanos sabem, exceto, evidentemente, os que trabalham na indústria de filmes.
''Grip” já foi dicionarizado. A versão brasileira do Webster o define como carpinteiro. Por analogia, “key grip” seria o carpinteiro-chefe. Não é. São chamados de grip aqueles sujeitos que carregam e põem em ordem os mais variados equipamentos num set de filmagem e nas locações. O grip desloca móveis, monta câmera, empurra carrinho, puxa fio, ajuda a grua a subir, jamais pega num serrote ou numa plaina.
''Gaffer”, que em sua acepção corriqueira significa capataz, é o chefe dos eletricistas. Trabalha com o diretor de fotografia, arrumando as luzes necessárias à iluminação de cada cena, comandando uma equipe de eletricistas e cuidando do estoque de material do seu setor. Seu principal assistente é o best boy, assim chamado mesmo quando uma pessoa do sexo feminino exerce a função.
''Foley artist” é um técnico que só entra em cena na fase de pós-produção. É o sonoplasta, ofício que, ao contrário das aparências, não está com seus dias contados, pela simples razão de que certos tipos de som e ruído não constam do acervo de nenhuma sonoteca, por maior e mais versátil que ela seja.
Onde arrumar um ruído compatível com a imagem de um bastão de beisebol esmagando a cabeça de um ser humano, por exemplo? Só mesmo pesquisando, sem causar danos à cabeça de ninguém. Depois de experimentar dezenas de artefatos e efeitos, o sonoplasta de ’Os intocáveis’, versão Brian De Palma, descobriu que o som mais próximo de uma bordoada igual à que Robert De Niro acerta no quengo de um de seus asseclas com um bastão de beisebol é o de um pino de boliche acertando um peru, morto é claro, mas (detalhe importante) ainda cru.
Postado por Renato Pozzobon
“Para de ficar
rezando e batendo o peito!"
O que eu quero que faças
é que saias pelo mundo e desfrutes de tua vida. Eu quero que gozes, cantes, te
divirtas e que desfrutes de tudo o que Eu fiz para ti.
Para de ir a esses templos
lúgubres, obscuros e frios que tu mesmo construíste e que acreditas ser a minha
casa. Minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nos lagos, nas
praias. Aí é onde Eu vivo e aí expresso meu amor por ti.
Para de me culpar da tua vida
miserável: Eu nunca te disse que há algo mau em ti ou que eras um pecador, ou
que tua sexualidade fosse algo mau. O sexo é um presente que Eu te dei e com o
qual podes expressar teu amor, teu êxtase, tua alegria. Assim, não me culpes
por tudo o que te fizeram crer.
Para de ficar lendo supostas
escrituras sagradas que nada têm a ver comigo. Se não podes me ler num
amanhecer, numa paisagem, no olhar de teus amigos, nos olhos de teu filhinho...
Não me encontrarás em nenhum livro ! Confia em mim e deixa de me pedir.
Tu vais-me dizer como
fazer meu trabalho ?
Para de ter tanto medo de mim. Eu não te
julgo, nem te critico, nem me irrito, nem te incomodo, nem te castigo.
Eu sou puro amor.
Para de me pedir perdão. Não há nada a
perdoar. Se Eu te fiz... Eu te enchi de paixões, de limitações, de prazeres, de
sentimentos, de necessidades, de incoerências, de livre arbítrio. Como posso te
culpar se respondes a algo que eu pus em ti ? Como posso te castigar por seres
como és, se Eu sou quem te fez ? Crês que eu poderia criar um lugar para
queimar a todos meus filhos que não se comportem bem, pelo resto da eternidade?
Que tipo de Deus pode fazer isso?
Esquece qualquer tipo de mandamento, qualquer
tipo de lei; essas são artimanhas para te manipular, para te controlar, que só
geram culpa em ti.
Respeita teu próximo e não faças o que não
queiras para ti.
A única coisa que te peço
é que prestes atenção a tua vida, que teu estado de alerta seja teu guia. Esta
vida não é uma prova, nem um degrau, nem um passo no caminho, nem um ensaio,
nem um prelúdio para o paraíso.
Esta vida é o único que há aqui e agora, e o único que precisas. Eu te fiz absolutamente livre. Não há prêmios nem castigos. Não há pecados nem virtudes. Ninguém leva um placar. Ninguém leva um registro. Tu és absolutamente livre para fazer da tua vida um céu ou um inferno.
Esta vida é o único que há aqui e agora, e o único que precisas. Eu te fiz absolutamente livre. Não há prêmios nem castigos. Não há pecados nem virtudes. Ninguém leva um placar. Ninguém leva um registro. Tu és absolutamente livre para fazer da tua vida um céu ou um inferno.
Não te poderia dizer se
há algo depois desta vida, mas posso te dar um conselho:
Vive como se não o houvesse. Como se esta
fosse tua única oportunidade de aproveitar, de amar, de existir. Assim, se não
há nada, terás aproveitado da oportunidade que te dei. E se houver, tem certeza
que Eu não vou te perguntar se foste comportado ou não.
Eu vou te perguntar se tu
gostaste, se te divertiste...
Do que mais gostaste? O
que aprendeste?
Para de crer em mim - crer é supor,
adivinhar, imaginar.
Eu não quero que
acredites em mim. Quero que me sintas em ti. Quero que me sintas em ti quando
beijas tua amada, quando agasalhas tua filhinha, quando acaricias teu cachorro,
quando tomas banho no mar.
Para de louvar-me! Que tipo de Deus
ególatra tu acreditas que Eu seja? Aborrece-me que me louvem. Cansa-me que
agradeçam.
Tu te sentes grato?
Demonstra-o cuidando de ti, de tua saúde, de tuas relações, do mundo. Sentes-te
olhado, surpreendido?... Expressa tua alegria!
Esse é o jeito de me
louvar.
Para de complicar as coisas e de repetir
como papagaio o que te ensinaram sobre mim. A única certeza é que tu estás
aqui, que estás vivo, e que este mundo está cheio de maravilhas. Para que
precisas de mais milagres?
Para que tantas explicações? Não me procures fora!
Para que tantas explicações? Não me procures fora!
Não me acharás.
Procura-me dentro.
Aí é que estou, batendo
em ti.”
Baruch Spinoza
segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014
LA MEDIA VUELTA
Já faz algum tempo que
tenho pesado nesta música. Sua letra me fascina. Foi composta por José Alfredo
Jimenez Sandoval (1926/1973). Jimenez era mexicano, nunca estudou música. Não
sabia tocar nenhum instrumento musical. Suas composições eram interpretadas
para algum maestro que as escrevia.
La Media Vuelta foi executada um sem número de vezes por
diversos cantores. Recentemente apareceu na trilha da “Casa das Sete Mulheres”,
série da Rede Globo.
A letra, traduzida para o português, pelo meu espanhol da
fronteira, é mais ou menos assim:
Vais porque eu quero que
te vás
A hora que eu queira, te
detenho
Eu sei que meu carinho te
faz falta
Porque, queiras ou não,
sou teu dono
Eu quero que te vás pelo
mundo
E quero que conheças muita
gente
E que te beijem outros
lábios
Para que me compares hoje
como sempre
Se encontrares um amor que
te compreenda
E sintas que te quer mais
que ninguém
Então eu darei a meia
volta
E me irei como o sol,
quando morre à tarde.
Vejam só, esse mexicano viveu no século passado,
provavelmente nunca ouviu falar em feminismo, mas tinha um sentido de
eternidade, de fraternidade, de liberdade e de amor.
Amor genuíno, porque não há amor sem liberdade. Sua letra,
redonda como a melodia, é um hino à emancipação feminina. “Tu vais porque eu
quero que te vás”, vais ser livre mesmo que não queiras. Livra-te do meu domínio,
vai procurar outros relacionamentos, outros amores.
E se achares outro amor, que te compreenda, fica com ele e “eu
irei como o sol, quando morre à tarde”.
Bota letra bonita.
sábado, 8 de fevereiro de 2014
CLIMA
Convido vocês a refletirem e tomarem posição sobre as
mudanças climáticas ao invés de só reclamarem do calorão.
Neste link (http://bit.ly/1bcl3by) vocês encontram um resumo preparado pelo climatologista José Marengo - do Centro de Ciência do Sistema Terrestre (CCST) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) - sobre o impacto das mudanças climáticas no Brasil.
Vou copiar e colar exatamente a previsão para a região Sudeste: "Aumento na frequência de enchentes urbanas e deslizamentos de terra em áreas de encosta, afetando moradores. Altas taxas de evaporação e dias secos consecutivos, com maio secura do ar e condições favoráveis para desbalanço hídrico, o que pode afetar agricultura de subsistência, pecuária e agroindústria. Escassez de alimentos, o que pode elevar preços e produzir desabastecimento Aumento nas ondas de calor, o que pode afetar a saúde e acrescentar o consumo de energia hidroelétrica, com risco de desabastecimento de energia. Impactos no fornecimento e qualidade de água para população. Impacto na geração de emprego, conflitos sociais, ameaça a segurança, saques. Impactos nos ecossistemas naturais (Mata Atlântica e costeiros)"
Há um conjunto razoável de informações nas mãos dos ecólogos e climatologistas que apontam que o desmatamento na Amazônia quebra o fluxo de umidade (chamado informalmente de 'rio no céu') para o Sul/Sudeste e implica em impacto nos regimes de chuva por aqui. Eu mesmo vi, em um congresso, o cientista Phillip Fearnside apontar isso há quase dez anos.
No entanto, enquanto os lados governista ou oposicionista discutem ferozmente a competência do governo federal em gerir a operação do sistema elétrico brasileiro durante a bizarra estiagem, ainda não vi seque um pio na imprensa, falada ou escrita, eletrônica ou tradicional, governista ou oposicionista, a respeito das razões para o que está acontecendo. Será esse esquecimento como um sintoma de recalque, descrito pela psicanálise, uma viseira que nos impede de perceber o óbvio, que é o fato de que o clima está mudando e que não estamos, de fato, fazendo nada efetivo para tentar mitigar o problema?
O pior de tudo: conforme o tempo passa, cada vez mais parecemos ignorar que o único jeito de minimizar o impacto - uma vez que ele virá - não é com o conceito 'nação', mas pensando como uma única espécie. A única espécie, aliás, supostamente capaz de raciocinar.
Neste link (http://bit.ly/1bcl3by) vocês encontram um resumo preparado pelo climatologista José Marengo - do Centro de Ciência do Sistema Terrestre (CCST) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) - sobre o impacto das mudanças climáticas no Brasil.
Vou copiar e colar exatamente a previsão para a região Sudeste: "Aumento na frequência de enchentes urbanas e deslizamentos de terra em áreas de encosta, afetando moradores. Altas taxas de evaporação e dias secos consecutivos, com maio secura do ar e condições favoráveis para desbalanço hídrico, o que pode afetar agricultura de subsistência, pecuária e agroindústria. Escassez de alimentos, o que pode elevar preços e produzir desabastecimento Aumento nas ondas de calor, o que pode afetar a saúde e acrescentar o consumo de energia hidroelétrica, com risco de desabastecimento de energia. Impactos no fornecimento e qualidade de água para população. Impacto na geração de emprego, conflitos sociais, ameaça a segurança, saques. Impactos nos ecossistemas naturais (Mata Atlântica e costeiros)"
Há um conjunto razoável de informações nas mãos dos ecólogos e climatologistas que apontam que o desmatamento na Amazônia quebra o fluxo de umidade (chamado informalmente de 'rio no céu') para o Sul/Sudeste e implica em impacto nos regimes de chuva por aqui. Eu mesmo vi, em um congresso, o cientista Phillip Fearnside apontar isso há quase dez anos.
No entanto, enquanto os lados governista ou oposicionista discutem ferozmente a competência do governo federal em gerir a operação do sistema elétrico brasileiro durante a bizarra estiagem, ainda não vi seque um pio na imprensa, falada ou escrita, eletrônica ou tradicional, governista ou oposicionista, a respeito das razões para o que está acontecendo. Será esse esquecimento como um sintoma de recalque, descrito pela psicanálise, uma viseira que nos impede de perceber o óbvio, que é o fato de que o clima está mudando e que não estamos, de fato, fazendo nada efetivo para tentar mitigar o problema?
O pior de tudo: conforme o tempo passa, cada vez mais parecemos ignorar que o único jeito de minimizar o impacto - uma vez que ele virá - não é com o conceito 'nação', mas pensando como uma única espécie. A única espécie, aliás, supostamente capaz de raciocinar.
Postado por Luis Fernando Tófoli, professor
da UNICAMP
Os Boiões
Ouvindo a
rádio Sky FM Solo Piano, via Internet, vieram à baila doces memórias da minha
juventude. Dizem que, com a idade, a gente tende a lembrar mais de coisas
do passado remoto do que de eventos mais recentes. Que seja, mas é muito
gratificante recordar os verdes anos! Certas notas desse piano que ouço servem
de trilha sonora perfeita para cenas idas e vividas.
Por
exemplo, essa harmonia que agora se desenrola é a trilha perfeita para as
excursões que fazíamos aos Boiões (os "Boião", como dizíamos). Esse
lugar, que fica às margens do rio Ibirapuitan, em Alegrete, era algo mágico e
selvagem para nossos quinze anos de vida. Era como viajar ao Canadá ou talvez
ao Grande Canyon do Colorado.
O rio
Ibirapuitan se estreitava entre paredões de uns duzentos metros, criando
paisagens muito parecidas com as dos filmes de cowboy que assistíamos,
avidamente, no Cine Glória. Acordávamos cedinho, cinco horas da manhã, e nos
reuníamos na casa do José Lisboa de onde seguíamos em direção à aventura. Dona
Zulmira, mãe do José, levantava cedinho para preparar lanches para seus
entrépidos filhos exploradores. Eu ia tocando minha gaitinha de boca, feliz da
vida, pisando no sereno da madrugada, sonhando com as Rocky Mountains. Me
lembro que os companheiros sempre pediam para eu tocar um trechinho de "Um
americano em Paris", Poema Sinfônico de George Gershwin. Até hoje sei
tocar essa passagem na gaita de boca...
Naquela
época tivemos uma iniciação muito boa em música erudita, graças ao pai do José,
o Dr Euclides Lisboa. Ele tinha uma "eletrola" super moderna, que
tocava em "Hi-Fi" (High Fidelity) seus inúmeros discos de vinil com
as preciosas óperas e sinfonias mais conhecidas. Nós só queríamos saber de rock
and roll, Elvis Presley, Bill Haley and His Comets, etc. Então o doutor fez um
trato conosco. Ele liberaria a eletrola para nós ouvirmos nosso som profano se
aceitássemos ouvir, antes, uma hora de música erudita.
Claro que
concordamos e hoje eu agradeço a essas benditas horas de educação dos nossos
selvagens ouvidos de adolescentes. Ali eu tomei conhecimento das grandes
óperas, das grandes orquestras, enfim, do mundo erudito que antes me parecia
uma grande chateação. O ouvido foi amansando, como diz o gaucho... O doutor
tinha um livro em francês que descrevia todas as óperas famosas, com fotos de
espetáculos nos grandes teatros do mundo. Lá eu fiquei sabendo da existência do
Scala de Milão, do Metropolitan Opera House de New York, do Teatro da Ópera de
Viena, etc. Graças a isso, em 2010, quando estive em Viena, fui assistir Madame
Butterfly nesse teatro. Através desse livro e tambem com as explicações do
nosso educador musical, nomes como Turandot, La Traviata, Tosca, Carmen e
tantos outros, passaram a fazer parte do meu universo de adolescente.
Voltando
aos Boiões, lá passávamos o dia tomando banho no rio, pescando, escalando os
paredões para vislumbrar melhor a paisagem. Certa vez, algumas meninas
conhecidas nossas, foram passar o dia no lugar. Foi quando o Lauro, vulgo
"Aranha", que adorava Perez Prado, resolveu espioná-las, quando
trocavam de roupa no mato. O "voyeur" foi descoberto e houve uma
indignação total das meninas, que viraram ferozes amazonas, prontas a enfrentar
nosso grupo masculino. Gentlemen que éramos, batemos em retirada... Dizem que o
"Aranha" ficou mal visto para sempre no meio estudantil feminino. Eu
acho que elas até gostaram da audácia juvenil do nosso querido Tequila... Ele
adorava a música Tequila, tanto que ela virou sinal de identificação da nossa
turma. Nas madrugadas mágicas do Alegrete, quando se ouvia alguem assoviando as
notas iniciais dessa composição de Perez Prado, reconhecíamos um parceiro. Pura
poesia e não nos dávamos conta disso...
Pensando
bem, nossa linda juventude, página de um livro bom, foi um Poema Sinfônico que
fomos compondo sem perceber e que esquecemos de marcar a data da estreia.
Postado por Renato Pozzobon
terça-feira, 4 de fevereiro de 2014
O FIM DO MUNDO
Nos
anos cinquenta, quando era criança em Alegrete, assinávamos a Seleções (do Reader’s
Digest). A Seleções era uma instituição das famílias, o norte
seguro, fornecido pelos Estados Unidos da América.
Uma
matéria que me chamou a atenção, à época, foi a de que “Tamanho Não É Documento”.
Será? Eu pensava. Mais tarde, saiu outro artigo que informava que “Ser Alto é Bom”.
Bem, havia o contraditório.
Outra
preocupação nos tirava o sono: o “perigo vermelho”, o comunismo russo ou o “perigo
amarelo”, o comunismo chinês.
Hoje,
penso que, naquele tempo, nossa visão da história era linear, pensávamos que o mundo
era assim constituído e sempre seria. A discussão sobre tamanho seria permanente
e prioritária. Não imaginava que o comunismo seria autodegradável e que
recursos naturais eram finitos.
Li
um artigo muito instigante na revista “Rolling Stone” (http://rollingstone.uol.com.br/edicao/14/aquecimento-global-e-inevitavel-e-6-bi-morrerao-diz-cientista).
Foi escrito por James Lovelocke, cientista britânico de 88 anos. Lovelocke foi o
criador do princípio que a terra é um ser vivo que evolui, se degrada e se
regenera. É dele a expressão “Gaia” para o planeta, palavra sagrada para muitos
ecologistas.
James
Lovelocke afirma que o fim do mundo está próximo. Não da maneira que
imaginamos, com gigantescos tsunamis. Não, o mundo arderá com o aumento da
temperatura terrestre e marítima. Segundo ele, isso não acontecerá em centenas
ou milhares de anos, mas até 2040.
Até
2040, o clima mudará drasticamente, com a formação de desertos e a elevação do
nível dos oceanos, que será de muitos metros. Nessas condições perecerão,
aproximadamente, seis bilhões de pessoas, permanecendo oitocentos milhões. A região menos atingida será a que hoje vivem
os povos nórdicos.
2040
está logo ali, quem está nascendo hoje terá 26 anos até lá.
Locke
diz que as medidas adotadas por governos e população, como energias
alternativas, reaproveitamento do lixo e outras, são medidas apenas cosméticas.
A degradação da natureza já atingiu um ponto irreversível.
Ele
não é totalmente pessimista e afirma que muito ainda podemos fazer. Locke, figurativamente,
diz que estamos abanando dentro de um barco que está para cair nas cataratas do
Niágara.
Devemos
imediatamente tomar decisões corajosas e urgentes, algumas das quais ele cita.
A nossa natureza é pródiga e a terra ficará
totalmente regenerada, como se regenerou depois da era glacial, quando foram
extintos os dinossauros. A devastação que os humanos cometeram nos últimos cem
anos demorará alguns milhões de anos para ser revertida, mas será. Já a espécie
humana...
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