quarta-feira, 29 de janeiro de 2014



MAD DOG AND GLORIA
        
A sociedade americana é puritana e violenta. Isso todo mundo sabe. Essa filosofia de vida é retratada todo o dia no cinema. No cinema, não há uma relação sexual que não seja frustrada antes de seu término (ver Woody Allen) ou que não seja “castigada” posteriormente. No cinema americano, as armas são símbolos fálicos e os disparos, ejaculações.
        
Pois hoje revi “Uma mulher para dois” (Mad Dog and Gloria, direção: John McNaughton, 1993). Nesse filme, tive a satisfação de assistir a uma relação sexual repleta de amor e carinho que se completa plenamente. Somente por isso valeria assisti-lo.

Mas esse filme tem mais: um senhor elenco: Robert de Niro, Uma Thurman, Bill Murray e David Caruso. Tem também uma interpretação sensacional de Mike Starr como “Harold”.

Ele conta a estória de uma mulher, Gloria (Uma Thurman) que é cedida como escrava, para Mad Dog (De Niro) após este ter salvo a vida de um chefão criminoso (Murray).

O filme é de um ótimo humor negro. Tem uma cena antológica que ficou na minha lembrança desde que o vi, nos anos 90. O personagem de Robert de Niro é um fotógrafo da polícia de Nova York. Ele é fã de Louis Prima (eu também sou).

É chamado para documentar um assassinato em um bar. Encontra um cadáver ensanguentado, mas também um jukebox. Dirige-se à máquina, localiza “Just a Gigolo”, de Prima. Ao começar Just a Gigolo, cantando junto com Prima, ele fotografa o cadáver, encenando uma elaborada coreografia, ao som da musica. É uma cena impagável.



domingo, 26 de janeiro de 2014























A GRANDE BELEZA
        

Assisti a esse filme fascinante e vou assisti-lo novamente, porque ele é rico de imagens e filosofia. Considero “A Grande Beleza” releitura atualizada de “A Doce Vida” de Federico Fellini. Não estou, com isso, menosprezando a “Grande Beleza”. É um filme deslumbrante e onírico. Fala sobre o difícil aprendizado de um homem maduro, que teve grandes vantagens materiais após publicar um único livro.

Seu personagem, Jep, é todos nós, que passamos pela vida, bem ou mal, mas  passamos.

O filme traz, também outro personagem, também fantástico, que transpira vida pulsante, com todas suas alegrias e tragédias. É a bela cidade de Roma, vista por ângulos espetaculares.

Transcrevo a crítica  de Wagner Brotto, de “Adoro Cinema” sobre a película:



"Viajar é “útil, exercita a imaginação. [...] Aliás, à primeira vista todos podem fazer o mesmo. Basta fechar os olhos. É do outro lado da vida." É assim, citando um pequeno trecho de "Viagem ao Fim da Noite", do escritor maldito Louis-Ferdinand Céline, que A Grande Beleza começa, entregando ao espectador um passaporte especial para um cinema provocante, divertido e de grande impacto visual. Tanto, que as linhas a seguir serão poucas, mas (tomara) suficientes para dar um norte ao leitor.


Logo nos primeiros minutos, com um canto gregoriano ao fundo, o espectador passeia com a câmera (e olhos) pela beleza de um lugar, e se "integra" um grupo de turistas. Você está em Roma e, curiosamente, um turista desgarrado, desmaia, depois de fazer um registro fotográfico da bela paisagem. Metáfora para um deslumbre? Sem perder tempo, a música religiosa dá lugar para a batida eletrônica de uma balada. Celebridades (instantâneas ou não) e interesseiros fazem parte da fauna presente na festa estranha com gente esquisita, proporcionada por Jep (um ótimo Toni Servillo), escritor refém de um único sucesso e, agora, vivendo de fazer entrevistas fúteis para sua editora anã. Estranho? Esse é apenas um aperitivo do que está por vir nessa produção, que flerta sem vergonha - e com atualidade - pelo universo de Federico Fellini, não só confrontando realidade e fantasia, mas inserindo as bizarrices tão familiares ao cineasta de A Doce Vida, entre outros títulos igualmente cultuados.



O protagonista é rico, bem sucedido, não é feliz com sua escolha e, incrível, a descoberta de que não deve perder tempo fazendo coisas que não quer, veio somente aos 65 anos. É quando sua frieza inicial vai sumindo, potencializando a capacidade de envolver você naquela história, a partir das constantes observações e intervenções, que ele faz nas pessoas que o rodeiam. A visão de dois jovens apaixonados e a lembrança de uma antiga paixão, por exemplo, acendem o estopim para uma série de momentos de reflexão (e provocação), que o roteiro vai destilando. Escrito e dirigido pelo cineasta Paolo Sorrentino, o sarcasmo é constante e não sobra pedra sobre pedra. Da religião à literatura, passando pelas artes, a afirmativa é de que a beleza não é tudo e a verdade sucumbe a ilusão. A sociedade (não só a italiana) é massacrada por críticas ácidas, detonando o culto ao belo, explorando os estereótipos e desafiando a intelectualidade, ao mostrar uma pintura, fruto da ira infantil, ser condiderada obra de arte. No filme cheio de imagens pra lá de interessantes, os diálogos também são muitos, intensos e deliciosos. E a própria cidade homenageada não é perdoada, quando alguém diz que o melhor de Roma são os turistas, enquanto outro complementa que a Itália "existe" para o mundo por causa da moda e da pizza.




Citando Dostoiévski, Breton e Flaubert, entre outros autores, o conflito de ser ou "continuar sendo" percorre toda a obra até o último segundo, rendendo muitas curiosidades. Entre elas, carreiras de cocaína no céu ou um mar no teto de um quarto, se revezam com o naufrágio do Concordia, Fanny Ardant solitária na noite ou ainda o agressivo merchandising de Martini. Seria esse último um paralelo (crítico, bem humorado e remunerado) com o mesmo Fellini, que fez publicidade de Campari no passado? Premiado e com várias indicações, entre elas uma eventual participação no Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, se A Grande Beleza tem um defeito, ser menor o tornaria ainda melhor. Mas em uma obra que vai fundo na desilusão, seria ilusão alguém imaginar que isso o torna "menor" na qualidade. É filme com conteúdo contundente no verbo e na imagem (do premiado Luca Bigazzi), brindando o pessoal da poltrona com um cinema raro, mas ao mesmo tempo fácil de entender, bem longe das propostas cabeçudas demais, que insistem em não dialogar com o público. Imperdível.



segunda-feira, 13 de janeiro de 2014





Like a Rolling Stone

 

Pois estava na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, dedicado ao mister de não fazer nada quando, subitamente, me veio à cabeça o ideário de Keith Richards em sua autobiografia.

 

        Como se sabe, Richards ingeriu toneladas de todos os tipos de droga. Houve um tempo em que ele arrastava-se de shows para camarins, como se vivesse a crônica da morte anunciada. Seus amigos poderiam ter feito apostas sobre o dia e hora que morreria. Sua fotógrafa e amiga Annie Leibovitz registrou momentos em que Richards tinha virado um farrapo humano.

 

        Keith Richards, agora em dezembro, fez setenta anos. E continua trabalhando do mesmo modo quando tinha vinte anos, participando de excursões  dos Rolling Stones.  Não se droga mais. Por que não morreu?

 

        Ele mesmo responde: - Sempre tomei drogas puras, elaboradas por bons laboratórios, como Pfizer e outros. Nunca tomei porcarias, chamadas de “chinelo mexicano”.

 

        Através desse genial guitarrista, do qual sou fã incondicional, fiquei sabendo que, sim, conceituados laboratórios preparam cocaína e heroína de maneira profissional, com alto teor de pureza. Pelo depoimento de Richards, verifica-se que essas drogas, feitas por mãos competentes, podem ser, relativamente, seguras.

 

        Ali, na Nossa Senhora de Copacabana, tive a certeza que a legalização das drogas, de todas as drogas, é só uma questão de tempo. É possível que eu ainda veja drogas variadas sendo vendidas em farmácias ou, talvez, em supermercados.

 

        Certamente o caminho das drogas, até até sua legalização, obedecerá a um cronograma. Certamente drogas mais pesadas seguirão os passos da maconha, informalmente liberada no Brasil e oficialmente vendida em países como Uruguai e parte dos EUA. Primeiramente, com receita médica, como coadjuvante em tratamento de doenças dolorosas e, depois, como recreação.

 

        Os resultados dessa prática seriam estupendos. As drogas são a mercadoria mais vendida no mundo inteiro, perdendo apenas para o petróleo. A legalização delas desmontaria poderosos cartéis criminosos e, ouso dizer, traria a desgraça de muitos políticos.

 

        Sendo legalizadas, as drogas poderiam ser taxadas e gerariam importantes recursos para a saúde em geral e tratamento de dependentes em particular, que são minoria.

 

        Vida longa a Keith Richards!