porque sou favorável às quotas
Moro em um bairro de classe média baixa.
Ao lado, bem próxima, há uma favela. Quando circulo por aqui, sinto como se
estivesse na África. A quase totalidade dos moradores aqui é de negros e
pardos.
Mesmo durante a semana, em horário de
trabalho, vejo homens, jovens e idosos, bebendo cerveja e fumando. Vejo,
também, moças e mesmo meninas, também sem trabalhar, usando roupas
apertadíssimas, desfilando pela rua.
São
comportamentos bem diferentes daqueles em que me acostumei, quando residia em
um bairro de pessoas com mais poder aquisitivo, quase todas brancas.
Como posso ver, considerados os limites
de minha observação, existe uma forte correlação entre raça e pobreza (e
miséria).
Alguém poderá dizer. Ora, são
vagabundos. Pode ser. Mas vamos pensar assim: nas boas escolas particulares,
não existem estudantes negros. No excelente filme “Meu Tio Matou um Cara” de
Jorge Furtado, o personagem que narra a história, garoto negro em uma escola de
ricos, constata que, além dele, há apenas outro negro, o porteiro da
instituição.
Como
está provado que não existe raça inferior, posso concluir que o comportamento
claramente autodestrutivo de meus vizinhos é resultado de uma profunda baixa de autoestima,
que vem sendo transmitida de pai para filho desde 1888.
A gente sabe que existem negros e pardos
que enfrentando tudo e todos, estudaram e atingiram posições invejáveis na
sociedade. Mas é ínfima minoria. Os governos devem governar para a maioria da
sociedade e não para uma minoria de super heróis.
Quem sabe as quotas não permitiriam
quebrar essa situação degradante para a população negra e parda (e também para
a índia)?
Alguém, novamente, poderia dizer: vamos
dar qualidade para o ensino público e não precisaremos de quotas. Mas afirmar
isso é tratar igualmente coisas que são completamente diferentes. Claro que o
ensino brasileiro é de baixíssima qualidade, constitui um gargalo em nosso
crescimento e precisa de reformas urgentes. Só que o tratamento desigual para
negros e pardos não tem nada que ver com qualidade de ensino. Tem a ver com
desigualdade social que já sabemos que existe.
Lembro-me de uma situação semelhante.
Quando do plebiscito do desarmamento, os que eram contra, diziam: “desarmem os
bandidos”. Isto é uma visão equivocada. Os bandidos devem ser desarmados porque
são fora de lei, não por medida plebiscitária. Os negros e pardos devem ser
auxiliados diferenciadamente, porque são diferentes, independente da qualidade
de ensino.
Sei que essa medida é complicada de ser
aplicada no Brasil, quando praticamente toda a população brasileira tem, como
se diz, um pé da África. Mas mesmo assim, deve-se insistir na aplicação das
quotas por um determinado tempo. Não acredito que meus vizinhos sejam pobres e
miseráveis por gostarem de ser assim.
Excelente artigo.Visão humana. Simples.
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