segunda-feira, 12 de novembro de 2012






porque sou favorável às quotas

        Moro em um bairro de classe média baixa. Ao lado, bem próxima, há uma favela. Quando circulo por aqui, sinto como se estivesse na África. A quase totalidade dos moradores aqui é de negros e pardos.

        Mesmo durante a semana, em horário de trabalho, vejo homens, jovens e idosos, bebendo cerveja e fumando. Vejo, também, moças e mesmo meninas, também sem trabalhar, usando roupas apertadíssimas, desfilando pela rua.

                São comportamentos bem diferentes daqueles em que me acostumei, quando residia em um bairro de pessoas com mais poder aquisitivo, quase todas brancas.

        Como posso ver, considerados os limites de minha observação, existe uma forte correlação entre raça e pobreza (e miséria).

        Alguém poderá dizer. Ora, são vagabundos. Pode ser. Mas vamos pensar assim: nas boas escolas particulares, não existem estudantes negros. No excelente filme “Meu Tio Matou um Cara” de Jorge Furtado, o personagem que narra a história, garoto negro em uma escola de ricos, constata que, além dele, há apenas outro negro, o porteiro da instituição.

                Como está provado que não existe raça inferior, posso concluir que o comportamento claramente autodestrutivo de meus vizinhos é resultado de uma profunda baixa de autoestima, que vem sendo transmitida de pai para filho desde 1888.

        A gente sabe que existem negros e pardos que enfrentando tudo e todos, estudaram e atingiram posições invejáveis na sociedade. Mas é ínfima minoria. Os governos devem governar para a maioria da sociedade e não para uma minoria de super heróis.

        Quem sabe as quotas não permitiriam quebrar essa situação degradante para a população negra e parda (e também para a índia)?

        Alguém, novamente, poderia dizer: vamos dar qualidade para o ensino público e não precisaremos de quotas. Mas afirmar isso é tratar igualmente coisas que são completamente diferentes. Claro que o ensino brasileiro é de baixíssima qualidade, constitui um gargalo em nosso crescimento e precisa de reformas urgentes. Só que o tratamento desigual para negros e pardos não tem nada que ver com qualidade de ensino. Tem a ver com desigualdade social que já sabemos que existe.

        Lembro-me de uma situação semelhante. Quando do plebiscito do desarmamento, os que eram contra, diziam: “desarmem os bandidos”. Isto é uma visão equivocada. Os bandidos devem ser desarmados porque são fora de lei, não por medida plebiscitária. Os negros e pardos devem ser auxiliados diferenciadamente, porque são diferentes, independente da qualidade de ensino.

        Sei que essa medida é complicada de ser aplicada no Brasil, quando praticamente toda a população brasileira tem, como se diz, um pé da África. Mas mesmo assim, deve-se insistir na aplicação das quotas por um determinado tempo. Não acredito que meus vizinhos sejam pobres e miseráveis por gostarem de ser assim.

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