quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015
quarta-feira, 21 de janeiro de 2015
Qual a melhor idade para a maioridade penal?
Em 12 de fevereiro de 1993, Jon Venables e Robert
Thompson assassinaram, por motivos fúteis, James Bulger, dentro de uma estação
de trens, em Liverpool, Inglaterra. Ambos foram presos, julgados e condenados à
prisão perpétua. Seria mais um crime se os assassinos não tivessem, à época, 11
anos e sua vítima, 2 anos.
Ao que me conste, não existe, na Inglaterra,
maioridade penal aos 10 anos ou menos. Existe um equivalente nosso ao estatuto
do menor, extremamente rigoroso.
Não estou entrando no mérito na
legislação penal inglesa. Penso na discussão exacerbada, pelo povo brasileiro,
da maioridade penal no país.
Se Jon e Robert fossem brasileiros,
seriam internados em uma instituição para menores e, aos 18 anos seriam
libertos para tocar a vida. Se mudasse a maioridade penal para 16 anos,
aconteceria a mesma coisa com eles. Se mudasse para 14 anos, idem. Se mudasse
para 12, também.
Vamos, apenas para raciocinar, que a
maioridade penal no Brasil fosse 10 anos. Sendo maiores, do ponto de vista
legal, os meninos apenados iriam para uma prisão de adultos. Não poderiam ficar
em um estabelecimento diferenciado porque, legalmente, eles seriam maiores. Sabemos
das condições de nossos presídios. Devido a sua pequena constituição, seria quase
o mesmo que condená-los à morte, mediante tortura.
Será que essa discussão sobre
maioridade penal não está mal encaminhada? Será que quem defende a maioridade
penal aos 16 anos, ou aos 14 anos (os defensores não gostam de números ímpares)
não tem necessidade de simplificar um assunto extremamente complexo, alimentado
por necessidade de vingança, não de justiça?
Não seria mais lógico revisar nosso
estatuto do menor, tornando-o mais exigente fazendo, por exemplo, que o autor
de crime hediondo continuasse a cumprir pena, em presídio, depois de ter
atingido 18 anos?
segunda-feira, 12 de janeiro de 2015
RELIGIÃO PROVOCA VIOLÊNCIA?
Nos últimos dez
anos, 101 torcedores morreram em brigas de estádio no Brasil. O número é cinco
vezes o de mortos em ataques de terroristas muçulmanos na França e o dobro das
vítimas da Inglaterra no mesmo período.
Podemos então dizer
que esporte mata? Que o futebol provoca violência? Pois é exatamente o que
fazemos quando culpamos a religião pelo terrorismo.
A crueldade do ataque aos jornalistas do Charlie
Hebdo faz muita gente ligar os pontos e afirmar que religião causa violência.
Gente graúda pensa assim – como Richard Dawkins, na minha opinião um dos gênios
vivos da ciência. Também parece haver bons argumentos para essa ideia. As
cruzadas, as carnificinas entre protestantes e católicos nos séculos 16 e 17,
os conflitos entre hindus e muçulmanos na Índia: banhos de sangue em nome da fé
são frequentes na história.
Mas isso é um mito.
Religião não provoca violência, ou melhor: provoca tanta violência quanto
qualquer identidade de grupo. O homem mata em nome da fé, mas também em nome de
ideologias políticas, da nação, de etnias, da escolha sexual, do estilo de
roupas e músicas (como as gangues de Nova York dos anos 80) ou em nome de times
de futebol. O problema não é a religião, mas a tendência humana à hostilidade
entre grupos.
Para entender esse
padrão é preciso ir longe – até o momento em que violência entrou para o
repertório de comportamentos humanos, há algumas centenas de milhares de anos.
Nas savanas da África, onde o homem passou 90% de sua história
evolutiva, ficar sozinho não era uma boa ideia. Significava estar vulnerável a
animais ferozes e a ataques de tribos vizinhas. A solidão também resultava em
fome, pois a caça de grandes animais da megafauna (o big game) exigia ação coletiva e coordenada.
Para sobreviver e ter filhos, era preciso pertencer a um grupo. Fechar um
“pacto ou conspiração baseada em interesses mútuos de longo prazo”, como diz o
próprio Dawkins em O Gene Egoísta. Mas pertencer a
um grupo não bastava. Os genes tinham mais chances de se perpetuar se o
indivíduo participasse de uma coalização vencedora. Grupos mais harmônicos e
cooperativos, que armavam emboscadas com maestria, construíam boas ferramentas
e abatiam o inimigo sem piedade, superavam grupos humanos desunidos.
A evolução
favoreceu, assim, a tendência a dois comportamentos opostos. Entre os membros
do grupo, ganhou o páreo o indivíduo capaz de sentir emoções que possibilitavam
a cooperação. É o caso da compaixão, a satisfação em fazer amigos, a noção de
culpa (sentimento que nos empurra para reparação e conciliação com o grupo), a
vontade de castigar quem não coopera, a obsessão humana com a reputação, o medo
de ficar sozinho. Ao mesmo tempo, emergiu a tendência à hostilidade e à
violência contra grupos rivais. É o que os biólogos chamam de “altruísmo
paroquial”.
Basta uma olhadela
na história mundial para perceber que boa parte dela se resume a hordas,
gangues, tropas, tribos, times, bandos, exércitos – enfim, coalizões de homens
jovens cooperando entre si – lutando contra outras coalizões de homens jovens.
A religião, nessa história, é mais um pretexto para justificar uma antiga
tendência humana ao antagonismo entre grupos.
Não nego que
algumas crenças incitem os fiéis à violência e sejam mais problemáticas que
outras. Mas achar que guerras e atentados diminuiriam se as religiões acabassem
é ser otimista demais com o homem. Como mostrou o século 20, não é preciso
religião para haver massacres e genocídios.
A QUEM INTERESSA CRIMINALIZAR A RELIGIÃO
MUÇULMANA
A
população do mundo ocidental está com medo. Mais uma vez, o terror mostra sua
face. Alguns dizem que estes atos demonstram a falta de Deus.
Calma
com o andor. Os crimes foram cometidos em nome de Deus. Podemos afirmar que
estamos com excesso de Deus.
Na
verdade, embora a imprensa internacional nos bombardeie com a ideia de que as
motivações terroristas são ideológicas, provocadas por um braço radical do
Islamismo, isso não é verdade. Um alto representante religioso disse que os
atos terroristas fazem mais mal para a religião islâmica do uma pretensa
blasfêmia a Maomé. Certamente, a população de profissão islâmica foi a mais
prejudicada nesse episódio, assim como o segmento mais beneficiado foi a
extrema direita, xenófoba e racista, que deseja varrer a população emergente do
terceiro e quarto mundo que invade a Europa.
Algum
tempo, li um artigo feito em cima de pesquisa sobre motivações de homens e
mulheres bomba. De maneira geral, os mártires tem uma visão muito superficial
da religião muçulmana. O que os atrai para o sacrifício é o reconhecimento de
seu povo e, principalmente, a proteção financeira de sua família. Não podemos
esquecer de que essas populações vivem em situações de miséria inimagináveis
para nós. Essa história de morrer para possuir setenta virgens no paraíso é balela.
O
que está acontecendo é que o mundo está todo conectado. Todos começam a ter
ideia de que pode existir mundo melhor, mais justo, do que aqueles que vivem,
muitas vezes de injustiças sociais degradantes, onde a vida não vale quase
nada. Esse mundo melhor ficou mais perto e mais factível. Esse mundo,
entretanto, é perigoso para aqueles que sempre viveram da exploração de seus
semelhantes, daqueles estão acostumados a manter o poder a custa de iniquidades
e crueldades.
Para
eles, basta colocar a responsabilidade dos males do mundo nos povos
desenvolvidos. Aí entra a religião muçulmana. Ela é uma bandeira para seus
desígnios. É utilizada por ser intolerante com outras religiões, como são
intolerantes as cristãs e a sionista, todas descendentes dos ensinamentos de
Moisés.
Mas
para um povo que não conhece regime democrático, que não conheceu a revolução
industrial, que ainda vive a idade média, com altos níveis de analfabetismo,
isso é suficiente.
É
a velha luta de classes, identificada por Marx, agora em nível planetário. Não
é luta ideológica, não é luta religiosa, embora esses fatores estejam
presentes.
Os
povos ocidentais, desenvolvidos, certamente, com seu desprezo aos povos mais
atrasados, tem papel preponderante na manutenção da miséria. Se os Estados
Unidos tivessem utilizado uma porção ínfima dos dólares que queimaram arrasando
populações como a afegã, em educação e respeito aos costumes daqueles povos,
certamente, hoje, não teríamos terrorismo. O mesmo se pode dizer dos europeus,
com seu trágico colonialismo.
Mas
o terrorismo também interessa aos líderes dos povos desenvolvidos. Sim, porque o
medo, incutido na população, facilita seu domínio, domesticando-a.
domingo, 21 de dezembro de 2014
A Venezuela vende 80% de seu Petróleo aos EUA. Apesar disso, o caudilhinho com bigode anacrônico vive cuspindo diatribes contra americanos. Parece que esse fato nunca tirou o sono dos vizinhos.
E o rato ameaçando o elefante. Agora a Venezuela está quebrada porque Seu único PRODUTO de exportação, o petróleo, caiu de preço. Sabendo disso, os dirigentes cubanos, que correm o risco de perder o sustento de Maduro, como já perderam da ex-União Soviética, aceitam negociar com a pátria do capitalismo.
Um povo pode ser subjugado enquanto o regime lhe fornece condições mínimas de sobrevivência. Se não, vomita seus governantes. Maduro sifu.
sexta-feira, 12 de dezembro de 2014
MILITARES, LULA, bolsonaro e o canto
da sereia
Era início de 1964. Termo desconhecido para a época, “estava tudo
dominado”. Os generais subservientes a Washington dariam o golpe, derrubando o
presidente João Goulart. Ele era político que causava profunda irritação aos
americanos, por causa de seu discurso nacionalista. O governo americano sempre
foi muito cioso de seus empreendimentos além-fronteiras.
Havia
um “plano B”. Se os generais falhassem, a sétima frota estaria de prontidão nas
costas brasileiras e, aí, a invasão dos marines seria inevitável. De qualquer
forma, a frágil democracia brasileira seria derrubada.
Provavelmente, se os americanos tivessem nos invadido, o primeiro
ditador não seria Castelo Branco e, sim, Lincoln Gordon.
Não
houve necessidade de invasão. Os militares brasileiros fizeram o serviço sujo.
Não foi difícil. Eles tinham sido cooptados desde o fim da segunda guerra
mundial. Havia, é claro, o perigo comunista. Bastava compará-lo ao nazista para
que nossos homens de verde tivessem urticária. Naturalmente, certo apoio
financeiro foi necessário para o convencimento dos líderes revolucionários.
João Goulart não era comunista. Pelo
contrário, pertencia à classe conservadora, a elite do país. Era um dos maiores
latifundiários do Rio Grande do Sul. Certamente um oportunista que verificou haver
forte reação do país ao capital estrangeiro e transformou isso em discurso
político.·.
O
primeiro militar presidente foi o Mal. Castelo Branco. Sua admiração ao
“american way of life” era total.
Castelo
Branco sabia que a presença dos militares no comando do país seria desastrosa,
principalmente para eles mesmos. Tomou posse prometendo eleições gerais para o
próximo ano (1965).
Não
conseguiu fazer as eleições e acabou morrendo misteriosamente. A sedução do
poder é uma força fortíssima, quase irresistível. A ditadura militar durou 21
anos e os militares somente entregaram o comando quando o país estava quebrado,
sem apoio popular e a situação dos quartéis era anárquica.
Isso
é história. Vivemos, desde 1985, em uma democracia, talvez menos frágil que a
anterior.
Mas
a história se repete. Os atuais detentores do poder também provaram suas
delícias e também querem se eternizar no comando do país. O discurso não é
diferente do de João Goulart, o plano é de uma república sindicalista. O poder
é uma amante irresistível. As promessas precisaram ser douradas com acenos de
justiça social, para serem palatáveis. Foi implantado o bolsa família, virtuoso
em sua gênese, mas que fraqueja se o país não se modernizar. Só que a
modernização não pode ser feita, retira poder.
Dizem
que os extremos se tocam. Os fins últimos dos militares e dos sindicalistas foi
a tomada do poder. A prova disto é que Lula é hoje um feliz representante das
elites.
Que
Bolsonaro tem a ver com isso? O capitão Bolsonaro, ao contrário do que aparenta
sua figura pública, é uma pessoa inteligente, calculista e tem profundos
conhecimentos de tática e estratégia. Ele também quer o poder. Quer ser
presidente da república. Se possível, ainda em 2018. Embora pregue golpe de
Estado, almeja chegar ao governo federal nos braços do povo. Tal como Hugo
Chaves, que adquiriu experiência na caserna e foi eleito presidente da
Venezuela depois de fracassada tentativa golpista.
O
eleitorado de Bolsonaro é a classe média, incluída a classe média oriunda da
pobreza através do bolsa família. Essa classe é conservadora e almeja
estabilidade e segurança. Está assustada com a violência epidêmica que grassa
no país. Estranhamente, nenhum dos candidatos a presidente, nesta última
eleição, apresentou um plano consistente para reduzir a criminalidade no país.
Bolsonaro
vai basear sua plataforma política justamente em um plano com este objetivo,
seja ele qual for. Também vai bater muito no PT, porque aproveitará o desgaste
do partido, com 18 anos de governo.
Militares,
sindicalistas, Bolsonaro todos tem o mesmo objetivo. O canto da sereia. Deus
nos proteja.
terça-feira, 2 de dezembro de 2014
Um sorriso que chora
Maria Avelina Fuhro Gastal
Há
muito se perderam nas palavras. Do encontro entre o dito e o escutado restam
cicatrizes e feridas abertas.
Aos
poucos, as vozes deram vez ao silêncio. Na tentativa de não ferir, nem ser
ferido, calaram seus temores e, junto com eles, o amor perdeu sua vez.
No
vazio produzido pelo não-dito, a intimidade foi sufocada. Hoje tateiam-se como
dois estranhos.
Ela
manuseia as roupas como se fosse um ritual. Coloca em cada dobra o seu
ressentimento e amargura. Na perfeição da peça, a tentativa de reorganizar-se.
Não tem urgência, mas está determinada. Quer deixar ali toda a dor e levar só a
coragem para recomeçar.
Não
está sendo impulsiva. Apenas sente-se vencida pelo cansaço e pela desesperança.
Quer manter entre eles um pouco do afeto que os uniu.
O
dia se desfez nas dobraduras e a noite já espia por entre as frestas.
Pensou
em deixar um bilhete. Não achou digno. Apesar de tudo, eles merecem mais. Quer
um último ato respeitoso e definitivo.
A
fraca luz do abajur ilumina o ambiente com a suavidade que o momento requer.
Ela se deixa abandonar na poltrona, atenta aos sons que vêm da rua.
O
estalar do elevador e o tilintar das chaves a impulsionam. De um salto,
levanta-se, alisando a saia, a blusa e os cabelos. Qualquer desalinho seu será
imperdoável. Não pode enfraquecer, nem perder-se agora.
Ao
mesmo tempo em que ele abre a porta e entra, ela pega a mala e se dirige para a
saída. Seus olhos se cruzam. Os dele se voltam para a mão dela e retornam, em
tom de dúvida (ou será de desespero?) para o seu rosto.
Com
um sorriso que chora, ela toca suavemente o rosto dele e sai. Ele se vira a
tempo de buscar a mão dela. Segura-a com um afeto há muito adormecido. Ela
solta a mala, envolve aquela mão que tantas vezes a fez estremecer ao toque,
roça os lábios levemente no seu dorso e a solta. Pega a mala, entra no elevador
e parte.
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