ARANHA
Conheci o Lauro Fernando Estivalet Machado da
Silveira no primeiro dia de aula. Chamava atenção seu uniforme cáqui novinho em
folha. Mais tarde ele contou que tinha morado em Erechim e que seu pai, o Seu
Júlio, tinha sido transferido, pelo Correio, para Alegrete.
Lauro era uma simpatia. Conquistou a todos
instantaneamente. Quando chegou o verão, já amigos, fomos todos tomar
banho no rio Ibirapuitã. Naquela época, a moda era usar os fundos do CTG
Farroupilha. Na beira do rio, havia um pequeno trampolim. Fizemos fila e todos
nos atiramos n’água. Vimos, então, uma
mão acenando. Era a mão do Lauro. Ele não sabia nadar. Quando viu todo o mundo
se jogando, foi junto. Esqueceu-se de perguntar se ali era fundo. Na verdade,
era muito fundo. Nesse dia, salvamos a vida do Lauro.
Foi nesse dia também que nasceu o apelido do
Lauro, pelo qual ele seria conhecido por todos nós. Reparamos que ele tinha as
pernas fininhas e peludas. Daí para o apelido de Aranha foi um passo.
Quando começaram as reuniões dançantes na
casa do Fernando Maçarico, Luiza Maria e Aydinha, Aranha revelou-se um exímio
dançarino de rock’n’roll. Bastava a eletrola tocar Elvis Presley, Neil Sedaka
ou Paul Anka, ou mesmo a nacional Cely Campelo e todos paravam para ver Lauro e
Luiza fazerem os mais incríveis passos de dança.
Mais tarde, quando vim morar em Porto Alegre,
perdi contato com o Lauro. Mas sempre que ia a Alegrete, matava a saudade
daquelas nossas músicas de adolescência na casa do Aranha, naturalmente. Ele
tinha todos os long-plays quentes da época.
Lauro transformou seu amor por música em
profissão. Abriu uma loja de som na parte da frente de sua casa e produzia os áudio cassetes
de maior sucesso na cidade.
Uma ocasião que estive com o Lauro, ele tinha
criado uma antecipação de home theater. Ligou um vídeo cassete estéreo a uma
aparelhagem de som. Assim com a imagem de uma TV de 20 polegadas, assistíamos
shows e musicais com um sonzaço.
Depois soube que Lauro havia se mudado para o
litoral, junto com a Regina, sua esposa. Andei ensaiando visitas para ele, que
nunca se concretizaram. Há poucos meses,
andei ligando. Ele me disse estar muito deprimido, com Mal de Parkinson. Mais
uma vez programei uma visita, que foi sendo adiada.
Agora a visita tornou-se desnecessária. Lauro
se foi. Com ele foi uma parte importante de minha vida, a parte mágica da
adolescência. Ficou uma lembrança doce de nossa amizade, quando ele se fazia
anunciar, no pátio de minha casa, assobiando Tequila, de Perez Prado.
Está funcionando, Dila
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