PORQUE GOSTO DE SER RETRÔ
Carlos
Drummond de Andrade disse que após os 70 anos, pode-se dar uma banana para o
mundo. Ótimo. Como me faltam apenas um ano e meio para esta data, já estou
praticando, com prazer, o gesto.
Cansei de
tentar ser moderninho, tentando acompanhar a última moda na música, no cinema,
nas artes plásticas. Cansei porque essa é uma atividade extremamente cansativa.
Quando estamos dominando algum novo movimento, já aparece outro. E tudo
recomeça. Os modismos se sucedem com cada vez maior rapidez.
Federico
Fellini dizia que um dos maiores problemas da atualidade é o da hiper
comunicação. Falou isso nos anos 70. Imaginem se vivesse hoje!
Refugio-me em
alguns lugares do passado. Vivo bem lá, as coisas são tranquilas, sem
sobressaltos.
Vejo filmes
cujas cenas são lentas, pausadas, imagens como um quadro de Matisse. Nada de
cinema fliperama. Assisti a um filme de Akira Kurosawa (Trono Manchado de
Sangue) cuja lentidão é um exercício para nossa paciência. Curto filmes de Alfred Joseph Hitchcock (meu tocaio, descobri agora), cujo
suspense é organizado e cerebral. A cor preferida é P&B.
A propósito,
no trânsito urbano, ando sempre pela direita, o lado de quem não quer ser
incomodado. Geralmente, dessa maneira, chego antes, embora isso não tenha a menor
importância.
Alimentação é
um ritual de provar, com calma, o sabor dos alimentos que, na minha idade,
podem e devem ser ingeridos em quantidades cada vez menores É o slow food,
dentro da slow life.
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