KEITH
RICHARDS
Li “Vida”, autobiografia de Keith
Richards. Aconselho sua leitura para pessoas inconformadas com a vida que
vivemos, isto é, todas! Ele é um arraso!
Confesso que sempre virei um
pouco o nariz para os Rolling Stones. Achava o som deles meio sujo, tipo cada
um toca para si e Mick Jaeger se rebola para sua vaidade. Reconhecia que
algumas músicas deles, como Sactisfation e Brown Sugar são excelentes. Mas era
só. Para mim, supra-sumo eram os Beatles, com seu som afinadinho, estudado e
muito inventivo.
Meu primeiro engano. O som “sujo”
dos Rolling Stone é e sempre foi uma jogada de marketing. Imaginem uns rapazes
britânicos que querem lançar-se no mercado musical logo depois do estrondoso
sucesso dos Beatles. Vão fazer um som arrumadinho, igual ao deles? Vão sempre
ser covers dos Beatles. Serão sempre os segundos. Isso era tudo que Mick e
Keith não queriam ser.
Meu segundo (e último) engano.
Sempre achei que Keith Richards fosse um porra louca. Ele é um PORRA LOUCA
GENIAL. O cara é sensível, humilde, reflexivo de seus atos. Keith é um
filósofo.
Vamos aos fatos: Em 1973, revista
New Musical Express colocou Keith Richards, principal guitarrista e alma
musical dos Rolling Stones no topo de sua lista anual de “estrelas do rock com
maior probabilidade de morrer” naquele ano. Mesmo para um roqueiro, Richards
consumia quantidades hercúleas de heroína, cocaína, mescalina, LSD, peiote,
Mandrax, Tuinal, maconha, Bourbon e demais refrescos. Todos os colaboradores
achavam que ele estava com os dias contados. Àquela altura, a lista de baixas
no rock era longa e agourenta: Jimi Hendrix, Jim Morrison e Janis Joplin eram
apenas os nomes mais célebres a
encabeçar o obituário. Em 1969, havia morrido Brian Jones, que foi achado morto
na piscina de sua casa, poucas semanas após ser demitido dos Stones. Em vez de
preservar sua mortalidade, Richards preferia exibi-la de forma acintosa.
Registrou para a posteridade seu quase constante torpor, dando livre acesso a
Robert Frank, Annie Leibovitz e outros fotógrafos, que o captaram nos camarins
e quartos de hotel, seminu e completamente doidão. Ao ver aquelas imagens de
Richards, largado, chapado e leso, imaginava-se que era uma questão de dias
para que a imprensa anunciasse que ele havia morrido sufocado em seu próprio
vômito.
Na realidade, Richards foi em
frente, tropeçando pelos concertos em uma névoa narcótica, dormindo durante os
ensaios, sempre à beira do olvido e, mesmo assim, produzindo, junto com Jaeger
parte da música pop mais memorável da época. Entre 1968 e 1972, os Stones
gravaram Beggars Banquete, Let It Bleed,
Sticky Fingers e Exile on Main
Street, a essência do repertório deles. Continuaram a tocar essas músicas
por tanto tempo quanto Sinatra cantou Love
and Marriage. A peculiaridade dos Stones se devia menos aos vocais de
Jaeger do que a capacidade de Richards de absorver o estilo blues das guitarras
de Chuck Berry e Jimmy Red, criando algo novo. Havia músicos muito mais técnicos,
solistas muito melhores, mas a noção de ritmo e de riff dele, seu bom gosto, seus acordes sustentados e espaços
abertos marcaram o som dos Stones. E, ao longo disso, a Indesejada não conseguiu entrar no camarim. Depois de
deixar Richards no topo da lista de seu observatório da morte por 10 anos, o New Musical Express finalmente jogou a toalha e admitiu que ele fosse imortal
(Revista Piauí, janeiro 2011).
Keith Richards foi um garoto
pobre, criado nos subúrbios de Londres, logo após a Segunda Guerra Mundial (ele
nasceu em 18 de dezembro de 1943, em plena guerra). Seu avô materno era músico
e influenciou muito sua formação. Ao conseguir vaga em um conservatório,
aproveitou ao máximo tudo que aprendeu de música, assim como de artes
plásticas.
Nessa época, conheceu Mick
Jaeger. Os dois eram apaixonados por Blues e Rhythm and Blues. Ao contrário de
John Lennon, ele não era interessado por rock’n’roll. Sua paixão era por
músicos negros mais antigos. Richards fazia de tudo para conseguir discos da
Chess Records, gravadora de seus ídolos e, pacientemente, repetia todos os
acordes e riffs. Ele conta que os long plays foram sua escola.
Mais tarde, ao tentar reproduzir
algumas músicas, viu que a afinação que usava não era suficiente para
reproduzir todos os efeitos sonoros. Ao trabalhar com Ry Cooder descobriu a
afinação que é a essência do blues. É um acorde aberto, com as cordas soltas em
ré, sol, ré, sol, si, ré. Ou seja, as cordas soltas soam como o acorde em sol
maior. Esse acorde facilita o uso de cordas dobradas, a alma dos riffs (que
Chuck Berry desenvolveu com maestria). Mais tarde, eliminou a sexta corda, que
era só uma repetição e depois encomendava guitarras com
apenas 5 cordas. Essa afinação também foi usada por Robert Johnson, figura
mítica do blues, Son House e Charley
Patton. Don Everly também a
usou em By, By Love. Usando uma Fender
Telecaster assim afinada, fez os riffs de Tumbling Dice, Brown Sugar, Honky
Tonk Women, All Down the Line, Can’t You Hear Me Knocking, entre outros.
Keith Richards explica: Se você
está tocando o acorde de maneira certa, consegue ouvir outro acorde soando por trás do qual
você está tocando, mas que não existe.
Isso desafia a lógica. O acorde está
dizendo: vem! A guitarra torna-se uma enguia elétrica.
Keith Richards não é apenas
merecedor de estar em todas as listas dos melhores guitarristas de todos os
tempos. Ele é um guerreiro, sempre acreditou em seu talento, desenvolveu novas
técnicas em vários instrumentos (também toca piano e baixo), é um excelente compositor.
Drogou-se bastante, é verdade, mas sempre com drogas puras, como frisa, foi e é
um bom vivant. Segundo ele, sempre comeu as melhores putas e bebeu as melhores bebidas.
Agora é um pacato pai de família. Como Mick Jaeger, com o tempo, seu
comportamento selvagem no palco virou uma “persona”, uma projeção do que já
foi.
Longa vida para Keith Richards!
Seja bem vindo a blogosfera, Lisboa. Pela amostra, vais ser mais um canal de propagação da cultura, literatura e música no mundo virtual. Precisamos de mais soldados para combater a mediocridade que assola as redes sociais. Longa vida para o blog do Zeca.
ResponderExcluirFraterno abraço, Paulo Bettanin.
Obrigado pela força
ResponderExcluirabrs
José