seu José
Detesto
ser chamado de “Seu José”. Parece nome de dono de botequim. Infelizmente, isso
começou a acontecer depois que atingi certa idade, talvez quarenta anos, não lembro ao certo. Apesar de pedir para não ser
chamado assim, parece que as pessoas mais jovens precisam me dar esse
tratamento.
O tratamento de “senhor” me parece ser uma
demonstração de preconceito, tipo tu és diferente de mim, por ser idoso, por
isso vou manter distância, te chamando de senhor.
A comunicação poderia funcionar assim: um
namorado de minha filha mais nova me chamava de tio. A partir daí, era tu para
cá e tu para lá. Tudo bem.
Tive um sócio, argentino, mais velho que
eu, que, uma vez, disse que era tão íntimo de um juiz, para quem prestava
serviços como perito judicial, que já se “tutiavam”. Perguntei a ele que isso
significa e ele me informou que era tratar-se por tu.
Bem, talvez a questão de tratamento seja
uma coisa mais complexa. Me dei conta que chamo de senhora a uma tia mais
velha. Talvez isso a incomode como incomoda a mim.
Tenho pensado nessa questão. Lembrei-me
que quando tinha dezesseis anos, participava da minha turma uma pessoa tão mais
velha que nós não entendíamos que graça ela achava de conviver conosco. Afinal
esse nosso amigo era um idoso, tinha vinte e sete anos.
Vamos transpor essa situação para agora.
Já fui jovem. Sei que ser jovem e idoso é exatamente a mesma coisa, em termo de
comportamento (claro que fisicamente há algumas diferenças). Entretanto, tenho
consciência de algo que nenhum jovem tem. Sei o que é ser idoso. Essa é a
diferença. Um jovem, repito, não consegue pensar como um idoso, por mais que
queira. Eu consigo pensar como jovem. Já vivenciei esta experiência, ele não.
Então, “Seu José”, vamos ser mais
tolerantes para com as diferenças.
seria então "professorar" tornar-se idoso antes do tempo? sou chamada de senhora por meus alunos, mas o curioso é que só da rede pública de ensino, pois os da rede particular não usam esse tratamento... a primeira vez que ouvi foi um choque, mas hoje percebo como um forte sinal de respeito. abraço pro "Seu José"
ResponderExcluir¨Seu¨José, muito bom seu texto. Um abração para o sr.....
ResponderExcluirOi, grávida
ResponderExcluirFizeste um acréscimo importante no assunto. As classes de maior poder aquisitivo são também mais avançadas em relações humanas. As de menor poder são mais conservadoras. Certamente por isso, na escola pública, as crianças te tratam como senhora, como devem tratar seus pais, em casa. Quando falei do guri que me tratava por tu, estava falando de uma pessoa de família que tinha alto poder aquisitivo.
Grande abraço
Obrigado, vovô bobão
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