VIVA O GÊNIO
Quando Dr. King
Shultz propõe a Django, após libertá-lo, dividir com ele os lucros de sua
atividade, caçar e matar foragidos da justiça, o recém-alforriado escravo diz:
-Matar brancos e ainda ganhar dinheiro com isso? Pode contar comigo!
Ficção? Ou nossa
vida afetiva não passa de um filme de Quentin Tarantino, em que as disputas são
resolvidas à bala ou de outras maneiras mais sofisticadas de matar?
Tenho um vizinho
jovem, certamente, que, como um pavão gosta de exibir suas plumas, necessita
mostrar a todos que tem uma moto. Por isso, passa os dias esganiçando o motorzinho
de 125 cilindradas, atazanando o sossego de todos. Sonho com a possibilidade de
derrubá-lo com uma calibre doze, quando passa.
Falei com um amigo,
que me visitava, e ele propôs algo mais eficiente e, por que não dizer, mais poético?
Substituir a carabina por um fio de arame, estendido na rua, na altura da
garganta do barulhento.
Tudo é fantasia,
mas qual a distância desta fantasia para a realidade?
Talvez exista uma
parte de mim que se irrita porque meu território, o acústico, foi invadido pelo
rapaz.
Já pensaram que
passamos quase toda nossa vida a exercitar nosso bang bang interior, lutando
por territórios?
Quando um empregado
em empresa, pública ou privada, fala mal de um colega para o chefe,
ele não está querendo ficar mais próximo e receber bênçãos do macho (ou da
fêmea) alfa e ampliar seu próprio território?
Meninas pobres de
doze ou treze anos andam com vestido curto e apertadíssimo, na rua ou em casa.
Certamente querem atrair machos que as engravidem. Do ponto de vista humanista
cristão, isto é uma tragédia, pois estão colocando no mundo inocentes que não
terão as mínimas condições de sobrevivência.
Do ponto de vista antropológico, estão certíssimas. Isso é poder, o
poder da perpetuação da espécie. Atraindo machos que as protejam, ganharão seu
próprio território.
Quando o a polícia
civil, militar, federal e a marinha começaram a ocupar os morros cariocas, para
melhorar a imagem do Rio de Janeiro por ocasião da copa e das olimpíadas, não
pretendiam acabar com o tráfico e sim desalojar os traficantes. Sim, a invasão
nos morros não passou de uma luta por territórios.
Os líderes árabes
fundamentalistas querem destruir o ocidente porque, segundo ele, o ocidente é
composto de pervertidos, que não seguem as determinações de Maomé. No entanto,
muçulmanos lutam contra muçulmanos. Tem lógica? Tem. As lutas fratricidas não
passam de ancestrais lutas tribais por território.
Os palestinos martirizam-se
explodindo na frente dos judeus que, por sua vez, armam expedições punitivas
quando são mortas centenas de pessoas inocentes. Alegam diferenças religiosas. Não
acredito. A religião muçulmana tem muito mais identidade com a Torá do que
divergências. Afinal, os princípios de Maomé foram tirados, na sua maioria, do Antigo
Testamento, que, por sua vez, baseou-se em lendas e contos pagãos muito mais
antigos. Esses povos devem estar lutando por território.
Durante a guerra
fria, Estados Unidos e União Soviética se digladiaram e quase destruíram a
humanidade por questões ideológicas. O cidadão americano dizia: “prefiro ser
uma democrata morto que um comunista vivo”. Nesse caso, havia disputa
ideológica, porque ela significava diferentes concepções de vida. Mas
subjacente à disputa ideológica, havia disputa territorial pelas nações
envolvidas.
Voltando à nossa
questão inicial, citei situações que simplesmente, são extensões da fantasia
que, individualmente, criei. Muitas vezes o inconsciente e o consciente comportam-se
como num filme de Tarantino.
E não é genial um
diretor que consegue traduzir sentimentos básicos de toda a humanidade?
Ótima análise!
ResponderExcluirGrande verdade!
ResponderExcluirObrigado, amigos
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