sábado, 2 de março de 2013





  VIVA O GÊNIO

Quando Dr. King Shultz propõe a Django, após libertá-lo,  dividir com ele os lucros de sua atividade, caçar e matar foragidos da justiça, o recém-alforriado escravo diz: -Matar brancos e ainda ganhar dinheiro com isso? Pode contar comigo!

Ficção? Ou nossa vida afetiva não passa de um filme de Quentin Tarantino, em que as disputas são resolvidas à bala ou de outras maneiras mais sofisticadas de matar?

Tenho um vizinho jovem, certamente, que, como um pavão gosta de exibir suas plumas, necessita mostrar a todos que tem uma moto. Por isso, passa os dias esganiçando o motorzinho de 125 cilindradas, atazanando o sossego de todos. Sonho com a possibilidade de derrubá-lo com uma calibre doze, quando passa.

Falei com um amigo, que me visitava, e ele propôs algo mais eficiente e, por que não dizer, mais poético? Substituir a carabina por um fio de arame, estendido na rua, na altura da garganta do barulhento.

Tudo é fantasia, mas qual a distância desta fantasia para a realidade?

Talvez exista uma parte de mim que se irrita porque meu território, o acústico, foi invadido pelo rapaz.

Já pensaram que passamos quase toda nossa vida a exercitar nosso bang bang interior, lutando por territórios?

Quando um empregado em empresa, pública ou privada, fala mal de um colega para o chefe, ele não está querendo ficar mais próximo e receber bênçãos do macho (ou da fêmea) alfa e ampliar seu próprio território?

Meninas pobres de doze ou treze anos andam com vestido curto e apertadíssimo, na rua ou em casa. Certamente querem atrair machos que as engravidem. Do ponto de vista humanista cristão, isto é uma tragédia, pois estão colocando no mundo inocentes que não terão as mínimas condições de sobrevivência.  Do ponto de vista antropológico, estão certíssimas. Isso é poder, o poder da perpetuação da espécie. Atraindo machos que as protejam, ganharão seu próprio território.

Quando o a polícia civil, militar, federal e a marinha começaram a ocupar os morros cariocas, para melhorar a imagem do Rio de Janeiro por ocasião da copa e das olimpíadas, não pretendiam acabar com o tráfico e sim desalojar os traficantes. Sim, a invasão nos morros não passou de uma luta por territórios.

Os líderes árabes fundamentalistas querem destruir o ocidente porque, segundo ele, o ocidente é composto de pervertidos, que não seguem as determinações de Maomé. No entanto, muçulmanos lutam contra muçulmanos. Tem lógica? Tem. As lutas fratricidas não passam de ancestrais lutas tribais por território.

Os palestinos martirizam-se explodindo na frente dos judeus que, por sua vez, armam expedições punitivas quando são mortas centenas de pessoas inocentes. Alegam diferenças religiosas. Não acredito. A religião muçulmana tem muito mais identidade com a Torá do que divergências. Afinal, os princípios de Maomé foram tirados, na sua maioria, do Antigo Testamento, que, por sua vez, baseou-se em lendas e contos pagãos muito mais antigos. Esses povos devem estar lutando por território.

Durante a guerra fria, Estados Unidos e União Soviética se digladiaram e quase destruíram a humanidade por questões ideológicas. O cidadão americano dizia: “prefiro ser uma democrata morto que um comunista vivo”. Nesse caso, havia disputa ideológica, porque ela significava diferentes concepções de vida. Mas subjacente à disputa ideológica, havia disputa territorial pelas nações envolvidas.

Voltando à nossa questão inicial, citei situações que simplesmente, são extensões da fantasia que, individualmente, criei. Muitas vezes o inconsciente e o consciente comportam-se como num filme de Tarantino.

E não é genial um diretor que consegue  traduzir sentimentos básicos de toda a humanidade?

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