sexta-feira, 20 de julho de 2012

blogue do zeca



MAIS DO MESMO


Vi ontem o filme “Para Roma com Amor”. É um Woody Allen de gema.

Há três décadas, Woody Allen tem feito um filme por ano, com exceção do ano de 1981. Ele é o que se poderia chamar de um empresário “pret a porter” do cinema. Um empresário bem sucedido, ressalte-se. Seus filmes costumam ser sucesso de público e, muitos, sucesso também de crítica. No ano passado, seu “Meia Noite em Paris” recebeu um Oscar pelo roteiro original.

Ultimamente, Allen descobriu outro filão para faturar. Procura prefeituras de cidades famosas, como Londres, Barcelona, Paris e Roma e propõe uma associação com a “franquia Woody Allen”. Em troca, recebe incentivos para a realização de seus filmes.

“Para Roma com Amor” foi feito com esse formato. Ele baseia-se em transcrição livre do “Decameron”, de Boccaccio. São quatro histórias, tendo por Roma como cenário.

As histórias não se interligam. Apenas suas sequências são intercaladas na tela.

A primeira é de uma turista americana e de um advogado socialista italiano que se encontram, apaixonam-se e querem casar. Ela manda buscar os pais para conhecerem a família do noivo. O pai da noiva é o próprio Allen.

A segunda é de um arquiteto americano que faz uma viagem sentimental a Roma, onde já estivera quando jovem. Lá encontra um estudante de arquitetura morando no mesmo local onde ficou. O jovem acaba sendo sua projeção do tempo de mocidade.

A terceira é de um casal que está chegando a Roma porque o rapaz recebeu proposta para trabalhar com um tio empresário, muito rico. Eles se perdem e acabam tendo aventuras extraconjugais.

A quarta é de um homem comum que, repentinamente vira uma celebridade e tem sua vida íntima revirado ao avesso.

A Roma de Woody Allen é apenas um cartão postal. Suas histórias poderiam ter ocorrido em qualquer lugar, inclusive Nova York, local dos primeiros filmes de Allen. As músicas são clichês dos anos 50 ou músicas de jazz americanas. Os personagens são todos meio neuróticos, indecisos e atrapalhados, todos persona de Allen.

Woody Allen já fez esse filme inúmeras vezes, ele vai se repetindo à exaustão.

Entretanto, Woody Allen é um gênio. Ele pega temas gastos e extrai brilhantismo. Suas gags são hilariantes. Por exemplo, todo mundo já pensou em colocar um cantor de chuveiro no palco, com o chuveiro junto. Allen faz isso e o resultado é de morrer de rir. Os personagens tem personalidade bem estruturada e, apesar de previsíveis, são convincentes e sedutores, deixando marcas em nossa mente após o fim do filme. As trapalhadas de cada um atraem nossa simpatia, porque também são nossas. O filme, mesmo com o sofrimento inerente, á uma aula de bom humor e crença na vida.

Considerando a mediocridade do cinema atual, mesmo um filme menor de Allen é sempre bem-vindo, por sua elegância e pela valorização da boa cultura.

O personagem de Woody Allen, também seu alter ego, é um aposentado compulsório que sonha em voltar à ativa, mesmo com os fracassos que colecionou ao longo da carreira. É a representação perfeita do próprio diretor.



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