quinta-feira, 19 de julho de 2012




REDAÇÃO DE ALUNA DA UFPE


Redação feita por uma aluna do curso de Letras, da UFPE, Universidade
Federal de Pernambuco (Recife), que venceu um concurso interno promovido
pelo professor titular da cadeira de Gramática Portuguesa.


Redação:
Era a terceira vez que aquele substantivo e aquele artigo se encontravam no
elevador. Um substantivo masculino, com um aspecto plural, com alguns anos
bem vividos pelas preposições da vida. E o artigo era bem definido,
feminino, singular: era ainda novinha, mas com um maravilhoso predicado
nominal.

Era ingênua, silábica, um pouco átona, até ao contrário dele: um sujeito
oculto, com todos os vícios de linguagem, fanáticos por leituras e filmes
ortográficos. O substantivo gostou dessa situação: os dois sozinhos, num
lugar sem ninguém ver e ouvir. E sem perder essa oportunidade, começou a se
insinuar, a perguntar, a conversar.

O artigo feminino deixou as reticências de lado, e permitiu esse pequeno
índice. De repente, o elevador pára, só com os dois lá dentro: ótimo, pensou
o substantivo, mais um bom motivo para provocar alguns sinônimos. Pouco
tempo depois, já estavam bem entre parênteses, quando o elevador recomeça a
se movimentar: só que em vez de descer, sobe e pára justamente no andar do
substantivo. Ele usou de toda a sua flexão verbal, e entrou com ela em seu
aposto.

Ligou o fonema, e ficaram alguns instantes em silêncio, ouvindo uma fonética
clássica, bem suave e gostosa. Prepararam uma sintaxe dupla para ele e um
hiato com gelo para ela. Ficaram conversando, sentados num vocativo, quando
ele começou outra vez a se insinuar.

Ela foi deixando, ele foi usando seu forte adjunto adverbial, e rapidamente
chegaram a um imperativo, todos os vocábulos diziam que iriam terminar num
transitivo direto.

Começaram a se aproximar, ela tremendo de vocabulário, e ele sentindo seu
ditongo crescente: se abraçaram, numa pontuação tão minúscula, que nem um
período simples passaria entre os dois.

Estavam nessa ênclise quando ela confessou que ainda era vírgula; ele não
perdeu o ritmo e sugeriu uma ou outra soletrada em seu apóstrofo. É claro
que ela se deixou levar por essas palavras, estava totalmente oxítona às
vontades dele, e foram para o comum de dois gêneros.

Ela totalmente voz passiva, ele voz ativa. Entre beijos, carícias, parônimos
e substantivos, ele foi avançando cada vez mais: ficaram uns minutos nessa
próclise, e ele, com todo o seu predicativo do objeto, ia tomando conta.
Estavam na posição de primeira e segunda pessoa do singular, ela era um
perfeito agente da passiva, ele todo paroxítono, sentindo o pronome do seu
grande travessão forçando aquele hífen ainda singular.

Nisso a porta abriu repentinamente. Era o verbo auxiliar do edifício. Ele
tinha percebido tudo, e entrou dando conjunções e adjetivos nos dois, que se
encolheram gramaticalmente, cheios de preposições, locuções e exclamativas.
Mas ao ver aquele corpo jovem, numa acentuação tônica, ou melhor, subtônica,
o verbo auxiliar diminuiu seus advérbios e declarou o seu particípio na
história.

Os dois se olharam, e viram que isso era melhor do que uma metáfora por todo
o edifício. O verbo auxiliar se entusiasmou e mostrou o seu adjunto
adnominal. Que loucura, minha gente. Aquilo não era nem comparativo: era um
superlativo absoluto.

Foi se aproximando dos dois, com aquela coisa maiúscula, com aquele
predicativo do sujeito apontado para seus objetos. Foi chegando cada vez
mais perto, comparando o ditongo do substantivo ao seu tritongo, propondo
claramente uma mesóclise-a-trois. Só que as condições eram estas: enquanto
abusava de um ditongo nasal, penetraria ao gerúndio do substantivo, e
culminaria com um complemento verbal no artigo feminino.


O substantivo, vendo que poderia se transformar num artigo indefinido depois
dessa, pensando em seu infinitivo, resolveu colocar um ponto final na
história: agarrou o verbo auxiliar pelo seu conectivo, jogou-o pela janela e
voltou ao seu trema, cada vez mais fiel à língua portuguesa, com o artigo
feminino colocado em conjunção coordenativa conclusiva.
Obrigado, Conde


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