domingo, 29 de julho de 2012


BLOGUE DO ZECA



Podia ver o que eles estavam sentindo. Eles passavam bem perto. Podia tocá-los, se esticasse o braço. Eles, os atores com rosto sujo de carvão, as dançarinas com vestidos do século 18, os músicos que batiam lata, os voluntários figurantes, eles fizeram sua apresentação na palpitante, histórica, jovem, pop, emocionante cerimônia de abertura dos Jogos de Londres, e saíram correndo pelo meio das arquibancadas do Estádio de Stratford, e olhavam nosolhos dos assistentes, e sorriam e gritavam e se regozijavam. Uma mulher de uns 50 anos, loira, magra, alta, as faces rosadas do esforço, escalou ofegante os degraus e, ao receber o sorriso de cumprimento de um jornalista, sussurrou, em inglês:
— Obrigada!
Um agradecimento estuante de orgulho. Eles estavam orgulhosos. Tinham de estar. Cerimônias com 3h36min de duração correm o sério risco de se tornar maçantes. A que o diretor de cinema Danny Boyle planejou não foi. Ele fez com que parte da história e da cultura britânicas fosse, além de vista, sentida pelas 80 mil pessoas no estádio.
Podia-se sentir a angústia dos operários cobertos de fuligem da Revolução Industrial, podia-se sentir a empáfia dos primeiros capitalistas da história. Logo surgiram Mary Poppins e os personagens do bruxinho Harry Potter, e o clima se suavizou, vieram Mr. Bean e as celebridades do cinema e da TV, e Bohemian Rapsody do Queen, e Satisfaction dos Stones, e My Generation do The Who. Foi uma cerimônia rock'n'roll.
A tudo isso assistiu a rainha Elizabeth II, sóbria e majestosa, como deve ser sempre uma rainha, das tribunas de honra do estádio. Foi muito aplaudida, a rainha, o que mostra o prestígio da monarquia entre os britânicos, esses campeões da democracia.
Bastante aplaudida também foi a delegação brasileira, saudada com entusiasmo pelo público, tanto quanto as delegações das vizinhas França e Alemanha, talvez porque os atletas tupiniquins entraram na pista portando pequenas bandeiras da Grã-Bretanha. Ou porque as atletas tupiniquins vestiam minissaias verdes e amarelas que lhes deixavam à mostra generosos pedaços das pernas sólidas. Mas nenhuma delegação estrangeira foi ovacionada como a dos Estados Unidos. Era a pátria-mãe que recebia de braços abertos o filho pródigo, decerto para júbilo da primeira-dama Michelle Obama, que estava no estádio. Para o final, é claro, coube a entrada apoteótica dos anfitriões, sob chuva de papel picado e ao som de Heroes, de David Bowie.
Os discursos do presidente do COI e do comitê organizador aborreceram um pouco a plateia, mas em seguida deu-se uma bela surpresa para os brasileiros: a ex-ministra do Meio-Ambiente Marina Silva era uma das personalidades a portar a bandeira olímpica, junto com Muhammad Ali. E, para o encerramento, o show tão esperado de um dos ingleses mais famosos de todos os tempos: Paul McCartney, cantando Hey Jude. Se você está na Inglaterra, nada como terminar a noite ouvindo a voz melodiosa de alguém que começou como um beatle e que hoje é um "sir".
David Coimbra - ZH 28/07/2012

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