ALEGRETE
Estive lá. A cidade é menor do que a lenda
SHERLOCK DOS PAMPAS
Muciano era
inspetor de polícia no município do Alegrete. Com uma rotina tranquila,
aguardava sua aposentadoria para breve.
Em um belo
dia, após virar a erva para mais uma rodada de chimarrão, foi interrompido pelo
toque de seu celular. Era o delegado Dornelles solicitando que ele se dirigisse
com urgência ao sítio de seu Altamiro.
Ao chegar ao
local, ouviu choro convulsivo ao passar pela porta entreaberta. Na sala, estava o Altamiro bem morto com um certeiro faconasso no coração. O choro era da recente
viúva, que tinha encontrado o corpo do marido.
Muciano, com
a calma de bom profissional que era, examinou cautelosamente, primeiro o corpo,
depois o ambiente, enquanto aguardava a chegada do Dr. Euclides, médico
legista.
A arma do
crime estava junto ao corpo. Segundo a viúva, pertencia ao morto. Seria bom
manuseá-la com cuidado, pois poderia conter impressões digitais.
Havia alguns sinais de luta, mas
nenhum indício de arrombamento, o que afastava a possibilidade ter sido morto
por um estranho.
Após
consolar a viúva da melhor maneira que pode, fez as perguntas de praxe, se ele
tinha inimigos ou devia para alguém. Ela disse que o marido tinha temperamento
irascível, tendo alguns desafetos. Não tinha dívidas não pagas, pelo que ela
sabia. Segundo ela, aparentemente, nada tinha sido levado, afastando a
possibilidade de assalto.
Muciano
voltou a seus afazeres enquanto aguardava o resultado da perícia. Recebendo o
relatório técnico, ele soube que não tinham sido encontradas impressões
digitais, além das do morto e de sua mulher, os únicos moradores na casa.
Resolveu
voltar ao local do crime, para um exame mais detalhado. Não encontrou nada novo
que ajudasse a elucidar o mistério. Teve uma ideia. Solicitou à viúva uma
vassoura e cuidadosamente, varreu a sala.
Entre os
diversos detritos, encontrou um fio preto, curto, que parecia fio de cabelo.
Entretanto, era muito grosso, poderia ser pelo de algum animal. Guardou o
achado.
Conversando
com conhecidos do morto, ficou sabendo que ele não tinha amigos, por seu
temperamento. Era uma pessoa comum, Sua única paixão era o jogo de truco, que
ele praticava todas as sextas feiras.
Foi
conversar com os parceiros do defunto. Ficou sabendo que o jogo era a dinheiro
e, às vezes, havia acaloradas discussões por motivo de não pagamento de
apostas. Um dos jogadores ficou muito tenso quando foi inquirido, segundo
apreendeu Muciano, com sua longa experiência. Insistindo com ele, ficou sabendo
que Altamiro tinha acumulado uma considerável dívida de jogo com ele.
Muciano viu
que tinha um suspeito. Mas como provar isso? Ao sair da casa dele, viu um
cachorro preto, um vira lata. O bicho, ao ser chamado, veio feliz, abanando o
rabo. O inspetor fez uns afagos nele e vendo que, no seu dorso, tinha um pelo
solto, apanhou-o.
Solicitou à
polícia técnica exame de DNA dos dois pelos. Demorou um pouco, porque o exame
teve que ser realizado em Porto Alegre. A resposta confirmou a suspeita de
Muciano. Os dois pelos pertenciam ao mesmo animal.
Com o exame
em mãos, procurou o suspeito. Contou-lhe tudo que tinha descoberto. O homem,
depois de profundo suspiro, confessou o crime.
Disse que tinha
ido cobrar a dívida de Altamiro. Ele não só disse que não a pagaria como o
destratou. No meio da discussão, Altamiro puxou seu facão e atacou João Abel,
era esse seu nome. Abel conseguiu desarmar Altamiro e o golpeou no coração. Ao
sair, teve o cuidado de limpar todos os vestígios, inclusive impressões
digitais.
Não contava com o cusco, aquele desgraçado,
que o seguia a toda a parte, como uma sombra, muda testemunha.
Nenhum comentário:
Postar um comentário