terça-feira, 12 de junho de 2012

ALEGRETE

Estive lá. A cidade é menor do que a lenda






SHERLOCK DOS PAMPAS

            Muciano era inspetor de polícia no município do Alegrete. Com uma rotina tranquila, aguardava sua aposentadoria para breve.

            Em um belo dia, após virar a erva para mais uma rodada de chimarrão, foi interrompido pelo toque de seu celular. Era o delegado Dornelles solicitando que ele se dirigisse com urgência ao sítio de seu Altamiro.

            Ao chegar ao local, ouviu choro convulsivo ao passar pela porta entreaberta. Na sala, estava o Altamiro bem morto com um certeiro faconasso no coração. O choro era da recente viúva, que tinha encontrado o corpo do marido.

            Muciano, com a calma de bom profissional que era, examinou cautelosamente, primeiro o corpo, depois o ambiente, enquanto aguardava a chegada do Dr. Euclides, médico legista.

            A arma do crime estava junto ao corpo. Segundo a viúva, pertencia ao morto. Seria bom manuseá-la com cuidado, pois poderia conter impressões digitais.

Havia alguns sinais de luta, mas nenhum indício de arrombamento, o que afastava a possibilidade ter sido morto por um estranho. 

            Após consolar a viúva da melhor maneira que pode, fez as perguntas de praxe, se ele tinha inimigos ou devia para alguém. Ela disse que o marido tinha temperamento irascível, tendo alguns desafetos. Não tinha dívidas não pagas, pelo que ela sabia. Segundo ela, aparentemente, nada tinha sido levado, afastando a possibilidade de assalto.

            Muciano voltou a seus afazeres enquanto aguardava o resultado da perícia. Recebendo o relatório técnico, ele soube que não tinham sido encontradas impressões digitais, além das do morto e de sua mulher, os únicos moradores na casa.

            Resolveu voltar ao local do crime, para um exame mais detalhado. Não encontrou nada novo que ajudasse a elucidar o mistério. Teve uma ideia. Solicitou à viúva uma vassoura e cuidadosamente, varreu a sala.

            Entre os diversos detritos, encontrou um fio preto, curto, que parecia fio de cabelo. Entretanto, era muito grosso, poderia ser pelo de algum animal. Guardou o achado.

            Conversando com conhecidos do morto, ficou sabendo que ele não tinha amigos, por seu temperamento. Era uma pessoa comum, Sua única paixão era o jogo de truco, que ele praticava todas as sextas feiras.

            Foi conversar com os parceiros do defunto. Ficou sabendo que o jogo era a dinheiro e, às vezes, havia acaloradas discussões por motivo de não pagamento de apostas. Um dos jogadores ficou muito tenso quando foi inquirido, segundo apreendeu Muciano, com sua longa experiência. Insistindo com ele, ficou sabendo que Altamiro tinha acumulado uma considerável dívida de jogo com ele.

            Muciano viu que tinha um suspeito. Mas como provar isso? Ao sair da casa dele, viu um cachorro preto, um vira lata. O bicho, ao ser chamado, veio feliz, abanando o rabo. O inspetor fez uns afagos nele e vendo que, no seu dorso, tinha um pelo solto, apanhou-o.

            Solicitou à polícia técnica exame de DNA dos dois pelos. Demorou um pouco, porque o exame teve que ser realizado em Porto Alegre. A resposta confirmou a suspeita de Muciano. Os dois pelos pertenciam ao mesmo animal.

            Com o exame em mãos, procurou o suspeito. Contou-lhe tudo que tinha descoberto. O homem, depois de profundo suspiro, confessou o crime.

            Disse que tinha ido cobrar a dívida de Altamiro. Ele não só disse que não a pagaria como o destratou. No meio da discussão, Altamiro puxou seu facão e atacou João Abel, era esse seu nome. Abel conseguiu desarmar Altamiro e o golpeou no coração. Ao sair, teve o cuidado de limpar todos os vestígios, inclusive impressões digitais.

 Não contava com o cusco, aquele desgraçado, que o seguia a toda a parte, como uma sombra, muda testemunha.
           
             
               
                


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