COMO
ELABORAR UM ROTEIRO
Gostaria de ser um novo João Emanuel
Carneiro, ganhar rios de dinheiro, sair em todas as publicações importantes,
morar no Copacabana Palace, viver cercado de belas mulheres e, o mais
importante, como Bozó, ser contratado da Globo?
Isso não é tão difícil. Difícil é
produzir alguma coisa invendável com a parafernália de marketing que a Globo
possui.
É necessário, entretanto, saber algo de produção de roteiros. Vamos nos ater à produção de um roteiro para
cinema, tendo em vista que novela é obra aberta. Ela vai sendo elaborada à
medida que as pesquisas de opinião vão orientando o caminho, a partir de uma ideia
básica.
Primeiro, vamos imaginar um roteiro
clássico, em três atos. Não é o único, mas o mais simples. Cada ato tem uma ou
mais cenas. As cenas se sucedem quando muda o local ou o tempo da ação. O tempo
do primeiro ato costuma demorar, mais ou menos 30% do tempo total. O tempo do
segundo ato, mais ou menos, 50%. O do terceiro ato, 20%.
Agora, vamos pensar em um argumento bem
básico. Existe o personagem principal e os secundários (Podemos criar mais de
um personagem principal, assim como podemos criar vários sub enredos, para
tornar a obra mais complexa. Uma novela, por definição, tem nove enredos. Estes
sub enredos terão seus respectivos personagens secundários).
O personagem principal, apresentado no
primeiro ato, tem que ser bem estruturado, para ser convincente. É importante
que ele possua caráter bem definido. Algum estudo de psicologia ajuda neste
momento.
O personagem é apresentado com seu
entorno. Este entorno deve possuir, neste momento, característica de baixa
emoção, como veremos a seguir. A caracterização do personagem (ou personagens)
deve ocupar todo o primeiro ato.
No
segundo ato, é lançado um desafio ao personagem. Pode ser uma agressão física,
um revés financeiro, uma doença, uma viagem ou até um desafio filosófico, como
a necessidade de mudar de vida. O contato do personagem com seu desafio carrega
em si um crescente de emoção, que permeia todo o segundo ato. Quanto mais
difícil o enfrentamento do desafio, maior a carga emocional. Admite-se que o
personagem aceitou o desafio, senão não teremos enredo.
O terceiro ato, a conclusão, é o
momento em que o personagem consegue (ou não) vencer o desafio. No terceiro ato
também é gerada carga emocional, embora não tão forte como no segundo ato. Na
conclusão, o autor pode criar final impactante. Na maioria das vezes, o
personagem volta à sua rotina, mas agora está mais amadurecido após a batalha
que enfrentou.
ESTRUTURA
DO ROTEIRO
Como já foi dito, os
atos são divididos em cenas. Não há necessidade de que essas cenas sem
produzidas em ordem cronológica. Elas podem ser escritas separadamente e depois
unidas na montagem final. Algumas cenas, às vezes, são acrescentadas e outras
eliminadas no processo.
A descrição do cenário deve orientar o
diretor, mas não deve muito detalhada para não limitá-lo.
Assim, por exemplo:
PRIMEIRO
ATO
CENA
1
Cavaleiros reúnem-se, fora da cidade,
para combinar o ataque ao xerife, que havia mandado o líder do bando para a
cadeia.
MALFEITOR 1
O
chefe chegará ao meio dia, de trem.
MALFEITOR 2
Aquele
xerifezinho já deve saber que ele voltou para vingar-se. Deve estar morrendo de
medo.
O malfeitor 3 apenas os observa
enquanto masca um palito de fósforo.
CENA 2
O xerife e sua noiva recebem os
cumprimentos dos moradores da cidade, após terem casado.
Etc.
Citei, sem muita precisão, uma
cena de um filme clássico, Matar ou morrer, que possui todos os elementos
descritos. Esse filme foi, brilhantemente, feito de maneira que o tempo da ação
(storyboard) ocupa exatamente o tempo de exibição da película. O tempo, no
filme, é permanentemente enunciado por um relógio, marcando a tensão crescente,
que explodirá no fim do “segundo ato”.
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