terça-feira, 12 de junho de 2012


blogue do zeca



PAULO COELHO

O intelectual está morto, viva o internectual.

O que é um efeito viral?

O que é uma campus party?

O que você pensa dos livros eletrônicos?

Um intelectual da velha guarda responderia: é o efeito de uma febre tipo dengue, uma festa de formatura em uma universidade e “gosto do cheiro de papel”.

A resposta certa é: efeito viral é o conjunto de comentários sobre determinada obra que se propaga independente da crítica especializada, campus party são megaventos de blogueiros que acampam em qualquer parte do planeta para discutir ideias.

            Os nerds, que outrora eram chamados de cdf, criam vasos comunicantes e ocupam de maneira avassaladora, sem pedir licença, o espaço reservado para os pseudoeruditos, que sempre julgaram conhecer melhor o que o povo deve ou não ler, embora se digam democratas.

            O livro Fifty shades of grey somente foi “descoberto” pelas editoras que fazem o tal de livro com cheiro de papel, depois que a versão eletrônica tinha vendido 2,5 milhões de exemplares.

            Pelo primeira vez na história, temos acesso irrestrito a bens culturais. Com o advento da internet, todos puderam expressar o que pensam a respeito de qualquer tema, incluindo as obras literárias. Quando alguém deseja comprar um livro, não vai procurar os comentários da crítica especializada, mas daqueles que já leram.
           
Sempre foi assim, mas agora a propaganda de boca a boca foi potencializada pela tal da propagação viral. Assim, um escritor pode encontrar seu lugar ao sol de maneira rápida e efetiva.

            A internet não é uma ameaça à literatura, sobretudo porque ainda é um meio escrito e, para que se escreva, é preciso ler. Tem que se entender que, da mesma maneira de que o mercado está mudando, a maneira de escrever também está mudando.

            Shakespeare, Flaubert e F. S. Fitzgerald foram criticados quando surgiram, porque sua maneira de escrever subvertia as regras usuais da escrita.
           
Não tenho nada a reclamar com isso, Na verdade, sou parte interessada. Embora a crítica especializada nem sempre tenha sido gentil comigo, afirmando que eu era apenas um fenômeno da moda, meu primeiro livro, Diário de Um Mago teve festejado o jubileu de prata de vendagens recordes.

            Com o advento da internet, passei a escrever para blogs e comunidades sociais. Com isso, ampliei o alcance daquilo que julgo importante dizer.

            Apesar disso, uma grande quantidade de escritores jovens ainda sofre aquilo que chamo de síndrome de Van Gogh, isto é ter reconhecimento só após sua morte. Gastam imensa energia em busca de reconhecimento que já não está nas mãos daqueles que pensam detê-lo.

            Escritores, aproveitem este momento único. E mãos à obra, porque qualquer sonho dá muito trabalho.

            Quando surgiu a Wikipédia, os críticos disseram que não teria credibilidade, nada substituiria e Enciclopédia Britânica. Agora esta vetusta publicação encerrou suas publicações impressas.

            Respondendo à última questão, devo confessar que jamais senti cheiro de papel.

            O intelectual está morto, viva o internectual.

RESUMO DE ARTIGO DE PAULO COELHO PUBLICADO NA REVISTA ÉPOCA EM 4/6/2012


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