O poder das empresas
tornou-se um risco global
O diretor da revista Foreign Policy afirma que o gigantismo
das corporações e o enorme poder político amealhado por elas subvertem as
regras da democracia.
Entrevista: David
Rothkopf, revista ÉPOCA, 13/08/2012, (trechos).
– Os governos nacionais
não conseguiram manter o ritmo de crescimento enquanto as multinacionais
cresciam?
Os governos cresceram também. Mas
mesmo o maior dos governos enfrenta limites nos gastos discricionários à sua
disposição. Uma economia como a da Suécia tem menos recursos disponíveis que
uma empresa como a (petrolífera americana) Exxon Mobil, cujo faturamento anual
é comparável ao PIB sueco. O orçamento do governo sueco é dirigido
principalmente para os direitos da população. O dinheiro que se gasta em
diplomacia é menor do que a Exxon gasta globalmente com relações públicas. O
número de países em que a Exxon atua supera o número de países em que a Suécia
tem embaixadas. Em parte, essas mudanças são devidas à evolução tecnológica, à
globalização, às exigências das novas economias. Mas também se devem à
influência política acumulada por essas empresas e usada para bloquear regulamentações
globais e mecanismos dos Estados-nação para contrabalançar as concentrações do
poder privado.
ÉPOCA – O senhor fala em “diferentes tipos de
capitalismo”. Qual poderia ser o sucessor do modelo americano?
O fim da guerra fria não encerrou o
debate sobre o sistema ideal para alcançar justiça social e oportunidade
econômica, apesar de livros e artigos dizerem o contrário. Nas duas décadas
seguintes ao fim da guerra fria, diversas modalidades de capitalismo surgiram:
o capitalismo “com características chinesas”; o capitalismo democrático de
desenvolvimento das grandes economias emergentes, como Brasil e Índia, que têm
de equilibrar as necessidades de mercado com as sociais; o capitalismo de
pequenos mercados empreendedores, encontrado em Cingapura, Israel e Emirados
Árabes Unidos; o eurocapitalismo. Cada um é diferente na maneira de equilibrar
o poder público e privado ou de lidar com as necessidades da comunidade contra
as do indivíduo. Todos são diferentes do capitalismo anglo-americano, porque
eles têm um papel maior para o governo como garantidor de um jogo justo, como
um provedor dos serviços essenciais. Mesmo com todos os problemas da Europa de
hoje, muitos países do norte europeu têm maiores taxas de criação de emprego do
que os EUA. Têm também menos desigualdade, maior crescimento industrial,
melhores tratamentos de saúde, melhor educação, mais gastos para pesquisa e
desenvolvimento, maior qualidade de vida que os americanos. E fazem isso com
mais responsabilidade fiscal que os EUA. Para mim, portanto, o sistema deles
funciona melhor que o americano.
Intervenção
minha: Esse discurso não é mesmo das esquerdas brasileiras de anos atrás, “mutatis
mutandis”?
Nenhum comentário:
Postar um comentário