segunda-feira, 14 de maio de 2012



blogue do  zeca



AMADO NERVO

Já bem perto do ocaso, eu te bendigo, ó Vida,
Porque nunca me deste esperança mentida,
Nem trabalhos injustos, nem pena imerecida.
Porque vejo, ao final de tão rude jornada,
Que a minha sorte foi por mim mesmo traçada;
Que, se extraí os doces méis ou o fel das cousas,
Foi porque as adocei ou as fiz amargosas;
Quando eu plantei roseiras, eu colhi sempre rosas. 

Decerto, aos meus ardores, vai suceder o inverno:
Mas tu não me disseste que maio seria eterno! 

Longas achei, confesso, minhas noites de penas;
Mas não me prometeste noites boas, apenas
E em troca tive algumas santamente serenas… 

Fui amado, afagou-me o Sol. Para que mais?
Vida, nada me deves. Vida, nada te devo
Estamos em paz!

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