BONI
Olhem, o Boni deu nos dedos da mídia em
geral. É por essas e outras que cada vez
tenho menos vontade de ver televisão
Vale a pena
reproduzir as palavras de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, a respeito
da televisão aberta, na atualidade, em entrevista à Larissa Roso, em ZH,
21/04/2012
Qual é o futuro da televisão?
Tudo o que é enlatado, tudo que a TV pode produzir
previamente, vai parar no vídeo on demand, que é a possibilidade de você pagar
para ver como um pay per view, na hora em que você quiser, onde você estiver.
É a extinção da grade da televisão. Essa grade que conhecemos
hoje está inteiramente superada. A TV tem que se dedicar mais a jornalismo,
esporte e eventos ao vivo. Tem que ganhar, em relação à internet, em
velocidade. Imediaticidade será o objetivo.
Coberturas ao vivo terão que de acontecer com frequência e
não esporadicamente.
A TV vai ter que arranjar meios de ser um grande Big Brother.
Tem que usar as câmaras da Prefeitura, as câmaras de segurança dos edifícios, dos
shoppings. Não vai poder mais arquivar notícia para exibi-la em determinado
horário. Tudo para brigar com a internet.
O Brasil está muito
atrasado?
Muito. Estamos acomodados, vivendo a fase de implantação da TV
digital, sem nos preocuparmos com o futuro. Tem gente que diz que devemos ter
um olho no futuro e outro no presente. Eu não, tenho os dois olhos no futuro e
os dois pés no chão. Como a tecnologia sempre nos atropela, acho que estamos tão
lentos, tão lentos, que sofreremos um grande atropelamento.
O entretenimento vai
perder espaço para o noticiário?
Grande parte, sim, para o streaming do vídeo e o vídeo on
demand. Hoje, seriados e filmes são baixados com rapidez razoável na internet. Considero
a internet e a telefonia móvel,aliadas. É uma maneira de ampliar a distribuição
do vídeo. Tudo isso é uma coisa só: televisão.
Como essas mudanças vão
alterar o dia a dia de quem vê novela?
A novela é uma coisa típica do Brasil e de alguns países
latino americanos e vai manter sua fidelidade. É o entretenimento que menos
sofrerá. O espectador participa muito, é uma forma de obra aberta. As emissoras
que tentaram fazer novela como uma obra fechada, viram que não deu certo. Você
tem que escrever e acompanhar os anseios do telespectador. É um gênero que vai
resistir às mudanças.
E as séries com um
episódio por semana?
Terão que ser alteradas. Vão sair da grade. Todos os
enlatadas terão que sair. A TV não sobreviverá com enlatados, a não ser as
estações segmentadas, como um canal que só passa seriados policiais.
Quando? Agora?
O tempo já passou. Vejo com angústia que as coisas continuam
iguais há muito tempo. Não vi mudanças significativas nestes 12 anos depois que
deixei a Globo. A única coisa que surgiu de novidade foi o Big Brother. Tem
gente muito boa na TV, mas é preciso ter uma contribuição de fora, de conteúdo,
de autor. A TV tem que ousar, trazendo gente sem vício de fazer TV, senão fica
tudo igual. A mesmice é cansativa.
O que o senhor tem
observado em outros países?
Nos Estados Unidos, vejo um grande esforço para melhoria de
conteúdo. De 2005 para cá, o conteúdo das séries melhorou muito. Depois daquela
greve dos roteiristas (entre 2007 e 2008), as emissoras trocaram os velhos
profissionais de televisão por gente que estava no cinema, gente nova, criativa.
As séries norte-americanas são muito interessantes. Imagino que também vão parar no vídeo on demand,
mas são muito interessantes. A TV americana está ampliando os horários de
jornalismo. O que era de meia hora passou a ter duas horas. O volume de informação
cresceu muito.
Nossos canais tem pouca
informação.
Sim. O volume de notícias nos canais abertos é pequeno. As redes
tem que abrir mais espaço para a TV local e a regional. A grande arma da TV
contra as redes sociais, a internet e a telefonia celular será a cobertura
intensa das coisas locais e regionais. Não vejo isso como futurólogo. É uma
experiência do passado projetada no futuro.
A CNN apresenta
noticiário a maior parte do tempo e se repete muito. Torna-se cansativo.
Esses canais, como a CNN, todos são malfeitos. Imagino algo
mais amplo que simples informação de política e polícia. Você tem serviço a
prestar, de uma forma que não seja aquele boletim de notícia que se repete de
hora em hora quase sempre com a mesma notícia. Isto é pouco investimento,
preguiça ou falta de percepção daquilo que o mercado quer. Este modelo de
estação de hard news que fica repetindo as notícias mais importantes, também
está ultrapassado. A CNN está ultrapassada há 10 anos. Mas isso é lá com eles.
Quem sou eu para dar palpite?
A programação ao vivo
se impõe quando ocorre algo espetacular, uma tragédia de grandes proporções.
Mas como investir na transmissão em tempo real num dia de marasmo?
Temos de parar de fazer jornalismo de agenda. Falta jornalismo
investigativo e de prestação de serviços. Essas duas coisas podem ser feitas e podem
ser extremamente úteis independentemente de um grande acidente. A televisão não
pode ficar à espera da queda de um avião. Ela tem que criar. É raro encontrar
um matéria feita com exclusividade.
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