segunda-feira, 13 de agosto de 2012



blogue do zeca


cinema falado

Sempre preferi ver filme estrangeiro legendado. Para mim, é mais natural. Assistir um filme com Al Pacino sem ouvir sua voz gutural é assistir ao filme pela metade. Filme francês tem que ter diálogos em francês. Se não, perde-se o encanto daquela língua que faz carícias no ouvido da gente. Afirma-se, também, que há certos sons ou efeitos especiais, mais tênues, que são perdidos quando se apagam as trilhas sonoras das legendas.

Conheço pessoas que preferem assistir filmes dublados. Sua justificativa é que, enquanto estão interpretando as legendas, perdem de apreciar as imagens. Isto para mim não faz sentido. Consigo ler as legendas em bloco, instantaneamente, e sobra tempo para apreciar as expressões dos atores e mesmo, quando conheço um pouco do idioma original, verificar se a tradução foi adequada.

No Brasil, os filmes são, via de regra, legendados, quando apresentados nos cinemas. Dublados são apenas os dirigidos a crianças. Li que existe tendência de mercado para a dublagem geral nas salas brasileiras. No mundo todo, essa é uma realidade. Nos Estados Unidos, os (poucos) filmes estrangeiros são todos dublados no cinemão comercial. Há raros filmes legendados, quando há ciclos especiais, em cinemas de arte. Mesmo na Europa, mercado mais intelectualizado, a norma é a dublagem.

Por que isto acontece? Tive resposta a esta questão em um artigo do neuro cientista Stanislas Dehaene (revista ÉPOCA 06/08/2012)).

Ele afirma que a leitura automatizada, que ocupa os neurônios do lado esquerdo do cérebro, é resultado de um tipo de alfabetização, em que a cada letra é atribuído um ou mais sons, que são gravados indelevelmente no alfabetizando. Há portando, no aprendizado, uma correspondência fonética para cada símbolo escrito. Ele diz que, em alguns idiomas, como o português e o italiano, que são “idiomas transparentes”, essa relação é muito direta. Em outros idiomas, como o inglês, a relação não é tão direta porque a cada símbolo, correspondem várias interpretações fonéticas. Essa é a gênese da leitura automatizada.

Ele diz também, que o método global ou construtivista, preferido por muitos pedagogos (inclusive brasileiros) é falho, porque, quando o alfabetizando apreende palavras inteiras antes de conhecer o significado fonético de cada letra, ele está estimulando o lado direito do cérebro, que não estratifica a automatização. Assim, a decodificação dos símbolos terá de chegar ao lado esquerdo da memória, para que a leitura seja concluída. Esse é um processo mais demorado, que é contrário ao “trânsito” do cérebro. Num certo sentido, esse método ensina a “ler errado” primeiro, por isso sua falha.

Como a tendência das sociedades é a do ensino da leitura por blocos (e, acho eu, isso é reforçado pela cultura da informática), a leitura automatizada está se perdendo. Por consequência, os filmes legendados ficarão cada vez mais restritos a certo grupo de pessoas e com tempo, poderão desaparecer, como língua morta.

Pessoalmente, quero morrer vendo filmes legendados.


2 comentários:

  1. O filme dublado perde duplamente. Primeiro ao desfazer-se da voz do ator-personagem original.Segundo que, por melhor que sejam os dubladores, eles não tem a emoção autêntica da fala,gerada pela interpretação durante a filmagem.Poderíamos citar uma terceira coisa que é a tradução e adaptação nem sempre correta e que num caso de um filme no original, por pior que seja nosso inglês ,muitas vêzes se percebe a mancada ou falha na tradução-adaptaçao.

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