Joaquim esfalfava-se carregando
uma pesada folha. Joaquim não reclamava da vida. Ao contrário, resignava-se.
Sempre realizou o mesmo trabalho e todos seus parentes, amigos e conhecidos o
faziam da mesma forma. Afinal, Joaquim era uma formiga (ou formigo, se
quiserem).
Uma das coisas boas de seu trabalho era
que, sendo puramente braçal, liberava a cabeça de Joaquim para meditar. Joaquim
já ouvira falar que humanos diziam haver vida depois da vida e, também, de que
havia um deus que regulava todas essas coisas. Considerava essa maneira de
pensar como pura presunção. Não achava justo que humanos tivessem essas
regalias e as formigas não.
Um dia, Joaquim teve uma revelação.
Apareceu para ele um deus em forma de formiga (ou formicomorfo). Esse deus
disse ser o único verdadeiro, sendo todos os outros falsos. Joaquim ficou
paralisado pela visão. Até derrubou o pedacinho de carne que carregava e teve a
atenção chamada pela rainha.
Joaquim tornou-se pregador. Essa atitude
foi considerada rebelde pela hierarquia do formigueiro. Os encontros para
adorar o deus das formigas estavam atrapalhando a produção e isso poderia gerar
fome quando o inverno chegasse, com o enfraquecimento do formigueiro.
Mas Joaquim tinha fé inabalável. Sua
dedicação e seu destemor foram atraindo cada vez mais fiéis. Em pouco tempo, já
tinha uma grande congregação.
Foi então que aconteceu a tragédia. Um
grande pé destruiu Joaquim e todas suas formigas seguidoras, encerrando, para
sempre, a espiritual experiência do formigueiro.
José, primo querido. Tenho lido sempre teu blogue e estou cada vez mais convencido do teu talento. Um grande abraço
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