quarta-feira, 2 de maio de 2012





Joaquim esfalfava-se carregando uma pesada folha. Joaquim não reclamava da vida. Ao contrário, resignava-se. Sempre realizou o mesmo trabalho e todos seus parentes, amigos e conhecidos o faziam da mesma forma. Afinal, Joaquim era uma formiga (ou formigo, se quiserem).

         Uma das coisas boas de seu trabalho era que, sendo puramente braçal, liberava a cabeça de Joaquim para meditar. Joaquim já ouvira falar que humanos diziam haver vida depois da vida e, também, de que havia um deus que regulava todas essas coisas. Considerava essa maneira de pensar como pura presunção. Não achava justo que humanos tivessem essas regalias e as formigas não.

         Um dia, Joaquim teve uma revelação. Apareceu para ele um deus em forma de formiga (ou formicomorfo). Esse deus disse ser o único verdadeiro, sendo todos os outros falsos. Joaquim ficou paralisado pela visão. Até derrubou o pedacinho de carne que carregava e teve a atenção chamada pela rainha.

         Joaquim tornou-se pregador. Essa atitude foi considerada rebelde pela hierarquia do formigueiro. Os encontros para adorar o deus das formigas estavam atrapalhando a produção e isso poderia gerar fome quando o inverno chegasse, com o enfraquecimento do formigueiro.

         Mas Joaquim tinha fé inabalável. Sua dedicação e seu destemor foram atraindo cada vez mais fiéis. Em pouco tempo, já tinha uma grande congregação.

         Foi então que aconteceu a tragédia. Um grande pé destruiu Joaquim e todas suas formigas seguidoras, encerrando, para sempre, a espiritual experiência do formigueiro.

           

Um comentário:

  1. José, primo querido. Tenho lido sempre teu blogue e estou cada vez mais convencido do teu talento. Um grande abraço

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