quinta-feira, 12 de abril de 2012

blogue do zeca

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

Alan Turing, nos anos 50, criou as bases para o entendimento da inteligência artificial. Ele formulou a pergunta: “as máquinas são capazes de pensar?”.

Inspirou-se em um livro que ganhou quando tinha dez anos, chamado “Maravilhas da Natureza que Toda a Criança Deveria Conhecer”, uma espécie “Tesouro da Juventude” da época. O livro, repleto de informações que estimularam a imaginação do jovem Alan, trazia esta ousada afirmação:

“É claro que o corpo é uma máquina. É imensamente complexo, bem mais complicado que qualquer máquina artificial mas, ainda assim, uma máquina. Já foi comparado a um motor a vapor. Mas isto foi antes de descobrirmos tudo o que sabemos sobre seu funcionamento. Na verdade, o corpo mais parece um motor a gasolina, como o de um automóvel, uma lancha ou de uma máquina voadora”.

Se o corpo fosse uma máquina, seria possível inventar uma engenhoca capaz de pensar como ele? Este ano marca o centenário de nascimento de Turing. Ficaria ele impressionado ou decepcionado com a atual evolução do estado atual de pesquisas sobre inteligência artificial?

Poderemos suplantar milhões de anos de evolução da espécie humana e criar algo que rivalize com o poderio de 1,5 kg de massa cinzenta, encaixado entre as orelhas?

Não seria mais razoável tentar criar uma máquina com inteligência diferente da nossa?

No ano passado, a IBM construiu uma máquina, o Watson, programada para participar de um programa televisivo de perguntas e respostas, o “Jeopardy”, nos EUA. Ela fez bonito, respondendo corretamente o que lhe foi inquirido.

Watson não foi o primeiro. Em 1997. O “Deep Blue” venceu o então campeão mundial de xadrez, Garry Kasparov.

Jogar xadrez requer profunda análise lógica dos movimentos das possíveis jogadas em uma partida. Já responder às perguntas em um programa do tipo do Jeopardy, exige um processo horizontal de pensamento raso porém extenso e um gigantesco banco de dados.

O programa que anima Watson tem a capacidade de aprender com os próprios erros. Os algoritmos que selecionam as respostas mais prováveis são alterados pelo computador a cada resposta errada que ele dá.

A ideia de uma máquina capaz de aprender é um novo e poderoso ingrediente na inteligência artificial e vem criando máquinas que dão provas da capacidade de realizar tarefas não previstas por seus programadores.

Em 1991, foi criado o prêmio Loebner, para a invenção de um computador que pudesse dialogar com humanos, sem que esses descobrissem que estavam conversando com uma máquina. Esse prêmio é contestado por especialistas em inteligência artificial. Afinal, para que demandar esforços na construção de uma máquina que funcione como os seres humanos?

O objetivo é criar inteligência artificial diferente da humana.

Os descendentes do Deep Blue vem fazendo isso. Executam operações que nenhum ser humano seria capaz de realizar. O Blue Gene realiza 360 trilhões de operações por segundo. Essas velocidades permitem simular, por exemplo, como as proteínas se multiplicam no corpo humano, pesquisas que, futuramente, podem trazer grandes benefícios à medicina.

O desenvolvimento das máquinas ainda deixa a desejar quando comparado ao do cérebro humano. Embora elas possam trabalhar a altíssimas velocidades, não tem a capacidade de retrabalhar os dados, em nível inconsciente, como fazem os humanos, que tem a seu favor a emoção. A emoção permite que sejam dados saltos qualitativos, orientados pela sensibilidade estética, coisa que as máquinas ainda não têm.

Entretanto, existem experiências promissoras no campo da música e das artes plásticas.

Foi desenvolvido um computador que acompanha perfeitamente um músico humano interpretando jazz, mesmo quando ele parte para improvisações. O resultado surpreendeu músicos que ensaiaram anos para desenvolver essa capacidade.

Uma experiência em artes plásticas foi a seguinte: Um robô foi colocado à frente de outro para que repetisse movimentos, depois de receber ordens de outro robô, desconhecidas pelos programadores. Na repetição dos movimentos, as máquinas, agora em maior número, passaram a cumprir movimentos após ordens de outras máquinas, através de comandos, também desconhecidos para os humanos.

Mais tarde, esse grupo de robôs desenvolveu linguagem própria, só com a interação desenvolvida entre as máquinas, Essa linguagem  envolvia conhecimentos sofisticados, como direita e esquerda. Assim um robô, a partir de seu vocabulário acumulado, solicitava a outro um movimento, imediatamente cumprido. Foi como se as máquinas houvessem aprendido a se comunicar.
Com o desenvolvimento autônomo das máquinas, elas poderiam criar o que chamamos de arte, pela criação de movimentos complexos, aleatórios e, por que não, belos?

Talvez Turing se sentisse desapontado pelo que está sendo desenvolvido. Entretanto, a evolução está trazendo algo novo e potencialmente mais interessante.

Fonte: “O céu é o limite”, de Marcus  Du Sautoy, publicado  na folha de São Paulo, 8 de abril de 2012.

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