INTELIGÊNCIA
ARTIFICIAL
Alan
Turing, nos anos 50, criou as bases para o entendimento da inteligência
artificial. Ele formulou a pergunta: “as máquinas são capazes de pensar?”.
Inspirou-se
em um livro que ganhou quando tinha dez anos, chamado “Maravilhas da Natureza
que Toda a Criança Deveria Conhecer”, uma espécie “Tesouro da Juventude” da
época. O livro, repleto de informações que estimularam a imaginação do jovem
Alan, trazia esta ousada afirmação:
“É
claro que o corpo é uma máquina. É imensamente complexo, bem mais complicado
que qualquer máquina artificial mas, ainda assim, uma máquina. Já foi comparado
a um motor a vapor. Mas isto foi antes de descobrirmos tudo o que sabemos sobre
seu funcionamento. Na verdade, o corpo mais parece um motor a gasolina, como o
de um automóvel, uma lancha ou de uma máquina voadora”.
Se
o corpo fosse uma máquina, seria possível inventar uma engenhoca capaz de
pensar como ele? Este ano marca o centenário de nascimento de Turing. Ficaria
ele impressionado ou decepcionado com a atual evolução do estado atual de
pesquisas sobre inteligência artificial?
Poderemos
suplantar milhões de anos de evolução da espécie humana e criar algo que
rivalize com o poderio de 1,5 kg de massa cinzenta, encaixado entre as orelhas?
Não
seria mais razoável tentar criar uma máquina com inteligência diferente da
nossa?
No
ano passado, a IBM construiu uma máquina, o Watson, programada para participar
de um programa televisivo de perguntas e respostas, o “Jeopardy”, nos EUA. Ela
fez bonito, respondendo corretamente o que lhe foi inquirido.
Watson
não foi o primeiro. Em 1997. O “Deep Blue” venceu o então campeão mundial de
xadrez, Garry Kasparov.
Jogar
xadrez requer profunda análise lógica dos movimentos das possíveis jogadas em
uma partida. Já responder às perguntas em um programa do tipo do Jeopardy,
exige um processo horizontal de pensamento raso porém extenso e um gigantesco
banco de dados.
O
programa que anima Watson tem a capacidade de aprender com os próprios erros.
Os algoritmos que selecionam as respostas mais prováveis são alterados pelo
computador a cada resposta errada que ele dá.
A
ideia de uma máquina capaz de aprender é um novo e poderoso ingrediente na
inteligência artificial e vem criando máquinas que dão provas da capacidade de
realizar tarefas não previstas por seus programadores.
Em
1991, foi criado o prêmio Loebner, para a invenção de um computador que pudesse
dialogar com humanos, sem que esses descobrissem que estavam conversando com
uma máquina. Esse prêmio é contestado por especialistas em inteligência artificial.
Afinal, para que demandar esforços na construção de uma máquina que funcione
como os seres humanos?
O
objetivo é criar inteligência artificial diferente da humana.
Os
descendentes do Deep Blue vem fazendo isso. Executam operações que nenhum ser
humano seria capaz de realizar. O Blue Gene realiza 360 trilhões de operações
por segundo. Essas velocidades permitem simular, por exemplo, como as proteínas
se multiplicam no corpo humano, pesquisas que, futuramente, podem trazer
grandes benefícios à medicina.
O
desenvolvimento das máquinas ainda deixa a desejar quando comparado ao do cérebro
humano. Embora elas possam trabalhar a altíssimas velocidades, não tem a
capacidade de retrabalhar os dados, em nível inconsciente, como fazem os
humanos, que tem a seu favor a emoção. A emoção permite que sejam dados saltos
qualitativos, orientados pela sensibilidade estética, coisa que as máquinas
ainda não têm.
Entretanto,
existem experiências promissoras no campo da música e das artes plásticas.
Foi
desenvolvido um computador que acompanha perfeitamente um músico humano
interpretando jazz, mesmo quando ele parte para improvisações. O resultado
surpreendeu músicos que ensaiaram anos para desenvolver essa capacidade.
Uma
experiência em artes plásticas foi a seguinte: Um robô foi colocado à frente de
outro para que repetisse movimentos, depois de receber ordens de outro robô,
desconhecidas pelos programadores. Na repetição dos movimentos, as máquinas,
agora em maior número, passaram a cumprir movimentos após ordens de outras
máquinas, através de comandos, também desconhecidos para os humanos.
Mais
tarde, esse grupo de robôs desenvolveu linguagem própria, só com a interação desenvolvida
entre as máquinas, Essa linguagem envolvia conhecimentos sofisticados, como
direita e esquerda. Assim um robô, a partir de seu vocabulário acumulado,
solicitava a outro um movimento, imediatamente cumprido. Foi como se as
máquinas houvessem aprendido a se comunicar.
Com
o desenvolvimento autônomo das máquinas, elas poderiam criar o que chamamos de
arte, pela criação de movimentos complexos, aleatórios e, por que não, belos?
Talvez
Turing se sentisse desapontado pelo que está sendo desenvolvido. Entretanto, a
evolução está trazendo algo novo e potencialmente mais interessante.
Fonte: “O céu é o limite”, de Marcus Du Sautoy, publicado na folha de São Paulo, 8 de abril de 2012.
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