O
DEMÔNIO INTERIOR
Vindo
de Alegrete, cheguei a Porto Alegre cheio de planos e com toda a bagagem ética que
trazemos do interior. Logo vi que as coisas aqui eram diferentes.
Os
ambientes de estudo e trabalho geriam-se por outros critérios. A mais valia era
a competição desenfreada e sem escrúpulos. Para piorar, em meu primeiro emprego
tive um gerente sádico. Ele usava minha ingenuidade para me massacrar.
Comecei
a passar mal, psicológica e fisicamente. Para não pirar (ou fugir para o
Alegrete), inscrevi-me em um grupo de terapia. Como garantia, o coordenador do
grupo era um psiquiatra alegretense, o Dr. Moises Roitmann. Mais tarde, faria
quatros anos e meio de análise freudiana, com o Dr. Alberto Abuchain. Parei por
falta de fôlego financeiro.
A
terapia fez efeito.
Mais
tarde, já estabilizado, tive cachumba. Fiquei uma temporada em isolamento.
Nessa ocasião, recebi frequentes visitas do amigo Paulo Bergamaski. Como nós
dois tínhamos tempo à vontade, ficávamos conversando e filosofando.
Uma
ocasião, o Paulo disse que me invejava porque eu mantinha o “bicho” preso, ali
a meu lado. Entendi que o bicho era meu demônio interior e gostei da imagem que
Paulo usou.
Anos
mais tarde, o Paulo suicidou-se com um tiro na cabeça. Acho que não conseguiu
manter o bicho dele preso, como gostaria.
Os
tempos mudaram. Hoje, poucas pessoas tem a disposição de ficarem dez anos ou
mais remexendo em seus sentimentos mais íntimos. Além disso, os psico fármacos,
muito desenvolvidos, trazem alívio imediato para os males da alma.
Continuo
convicto que a psicanálise, essa viagem profunda aos nossos mais recônditos
sentimentos, essa verdadeira reeducação, é mais honesta do que a simples ingestão
de drogas, mas é um posicionamento meu e que se encontra cada vez mais isolado.
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